sábado, agosto 28, 2010

imemorial

Não nos lembraremos da noite

em que o encontro fora breve:

há outro motivo na liberdade,

esquecer o que talvez esteja distante

de repousar silencioso

e vaga no espaço.



Não nos lembraremos do cansaço

que havia depois da trilha, na chegada:

há uma cidade aos pés doloridos,

sistemas ópticos coloridos

de iludir as sombras

do último trago de vinho.



Não nos lembraremos da velha redoma

que vestia roupas rotas e delgadas:

eis que o tempo descolore as fotografias

que sacamos de nós em cada curva

da estrada.



Não nos lembraremos do álbum desfeito,

do copo vazio, do canto calado, da madrugada

nos botecos: prolongando o encontro, a palavra.

Esqueceremos cada dia e em cada dia

esqueceremos-nos, esse dia esquecido como tantos

e seremos os possíveis amigos de outro tempo.



O tempo... esqueceremos o tempo, não lembraremos

se é que fomos ou estamos ou seremos...

palavra escorrendo, palavra lava

que queima, que brasa, que lavra

o corpo que é nada!

Entretanto a lua é cheia, a noite é fria, a taça está plena

e brindamos, brindamos, brindamos levemente

ao momento que somos:

inesperado!