quinta-feira, fevereiro 25, 2010

Cidade estranha

Aonde tardar um novo sonho
ao ver luzes e vozes?
O palco vazio não contenta
a palavra além de si destemida,
nem teme o gesto emoldurado.
Calar, se for pecado, ideias
que atentam o pensamento,
paralisar o movimento atrevido
que precisa a arte.
Quem grita contra o grito,
quem silencia o silêncio?
Neste lugar não há um lugar
que aceite o meu corpo alterado,
que aceite a tentativa do indizível.
Cá não cabe o que se espreita,
cidade que rejeita o sentimento
em versos.

segunda-feira, fevereiro 22, 2010

o que se esvaí no pensamento!

O que se esvaí no pensamento
quando se faz quaisquer silêncios?
Quando o olhar vai pelo chão
lambendo as pedras de imagens vagas
e todos os passos, nenhum, vagam
por um desvão anterior à névoa pretérita,
o que se desfaz espraiado pelo caminho?
E quando se firma algum raciocínio?
O que se esvaí como a manhã de uma ideia,
o que se deixa sobre a noite
que não amanhece no tempo
e nascituramente medra um fruto futuro?

segunda-feira, fevereiro 08, 2010

Um poema de Adrienne Rich

eu gosto do meu corpo quando é com o seu
corpo. É então completamente uma nova coisa.
Os músculos melhoram e os nervos mais.
eu gosto de seu corpo. eu gosto do que faz,
eu gosto de como faz. eu gosto de sentir a espinha
de seu corpo e seus ossos, e do tremor-
firmescorregadiamente que eu
novamente, novamente, novamente
beijaria, eu gosto de beijar esta e aquela de você,
eu gosto, lentamente acariciando a, acariciando a penugem
de sua pele elétrica, e o-que-é vindo
novamente anular a carne...
e os grandes olhos de amoresfarelado,
e possivelmente eu gosto da sensação
de você debaixo de mim então completamente nova.



(tradução: Ricardo Aquino)