quarta-feira, dezembro 30, 2009

para quando...

para os primeiros
minutos de teus olhos
entre os cantos do amanhecer...

para todas as nuvens
sob a grande estrela
de cada dia desconhecido...

para cada cor
de cada tarde calada
enquanto resiste as estrelas...

para os últimos
instantes de tuas mãos
a desnudar a noite.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

sem artigos

mar agitado
ondas quebrando
areia queimando
corpo molhado
prancha em cacos
sal nesses olhos
ainda
vou sobre águas profundas
deslizar!

sexta-feira, novembro 27, 2009

Antes da tempestade

O que o vento não pode:
...
um sopro de levantar paisagem,
...
um movimento de qualquer imagem,
...
uma viração de céu e nuvem,
...
uma ondulação sobre as águas,
.
uma pequena miragem!

quinta-feira, novembro 12, 2009

sem resposta possível

Eu não sei responder o anonimato
e o tempo quando quase o toco
tenho o sono.
Adormecer ao ato de mover sistemas,
descansar para prover a empresa da vida.
Quase não escrevo,
quase não sonho...
Vou de um lado ao outro
sem me dar conta que deixo
pegadas e rastros
na distância.
Eu tento me manter sereno,
olhar as estrelas de ontem,
mas nas últimas noites nuvens pairavam
e amigos distantes sorriam e choravam...
Sinto o cansaço dos olhares
e olho perdido:
alguém que me seja preciso
diga que meu silêncio ainda me faz vivo
e que busco viver como sempre busquei!

Eu continuo com os mesmos algarismo,
tento signos mesmos de antes
e tento não ter segredos.
Amo muito e meus olhos sabem
que amanhecer tateando o amor
ilumina minh'alma e meu corpo.
Quero envelhecer vendo um sorriso de olhos puxados
dando cores ao caminho.
Destino não tem distância,
verdade não tem trinca.
Sentimento não é latifúndio!
Quando há um breve momento
busco uma resposta
(ao presente, que seja, mais longe do contato)
que não seja ao vácuo
pois que não sei responder ao anonimato!

terça-feira, novembro 10, 2009

...

Era uma tarde de novembro
e havia a sombra de cem anos...
O braço pendeu ao lado do corpo
para longe do corpo, o silêncio repentino
de uma tarde de novembro,
as mãos vazias,
uma esferográfica rolando pelo assoalho,
nenhuma mitologia, nenhum estruturalismo,
e nenhuma diferença: uma fotografia com alguns homens de vários continentes, com feições distintas e com o mesmo olhar e sorriso humano de amizade.


Claude Lévi-Strauss


Era uma tarde e era novembro
desde o dia antigo
ao dia último
o mesmo amor pelo homem
e pela vida.

quarta-feira, novembro 04, 2009

Agualusa livre

“Em criança tirei um pássaro de dentro de uma pequena gaiola.
O pássaro não voou.”
Não saberia o pássaro que era céu
olhar vôos e sê-los.
Ciculou-se ciclópico,
deu-se voltas e mais voltas
refletindo-se nos espelhos e nas grades.
Não sabia... sobreviver e voar e longe
circulou-se sem rumo, é certo...
Era criança livre depois prêsa,
crescida e prêsa,
guerreira e prêsa,
quase muda – livre.
Entendia: a gaiola era cidade...
sentia-se sufocado e via as pessoas em ruas,
em vias de tempo sujo e asqueroso.
Sentia o peso das correntes e das dobras das fardas...
e no mudo queixo quebrado,
desmundo do imundo passeio das tiranias
mirou os prédios mais negros,
deixou-se escorrente lágrima...
Aquela estação das chuvas àquela praça
expunha-me como o pássaro...
“Aquela cidade já não me pertencia ao meu organismo, era uma prótese.”



sábado, outubro 31, 2009

personagem





Eu te menti,
Tu me mentiste.
Nós nos mentimos.
Nós nos metemos
onde não fomos chamados.


Eu – sem querer – te desmenti.
Tu – então – te espantaste.
Ruíam as tuas bases,
perdias a tua geografia.
Ousaste de súbito uma pirueta,
cantaste delírios proféticos.
Entregaste os pontos que nos atavam:
foste se afastando,
afastando,
fastando...
um dia não eras!


Nossos personagens percebiam:
esquecíamos
na verdade
nossa história!

quinta-feira, outubro 29, 2009

do ao pelo como

Eu provo do sangue, do vinho,
da água que arde na boca agreste...

Eu rogo ao tempo, ao vento,
aos cinco elementos, ao raio de leste...

Eu juro pelo calendário, pelo sacro rosário,
pelos ritos de maio, pelo lácio da última flor...

Eu vivo como um desafio, como um desatino,
como um sutil artifício do amor...

sexta-feira, outubro 16, 2009

Mudança de planos

Eis o código:

quando a noite chegar
faremos sombras,
quando amanhecer
desenharemos sonhos!

quinta-feira, outubro 15, 2009

- !







Estou ligado à fonte de tudo
como a você,
como você também está ligada
e como eu acredito:
essa corrente mantenedora
de todo amor, de todo ódio,
de toda iluminação!

Tremo entre mim:
a energia do corpo,
meu abrigo, teima ambígua
em tantas camadas,
em tantos tecidos,
em tantos sentidos
que nunca adormecem
nem tentam destinos.

Estou conectado àlgum ponto
tão infinito quanto um sonho
de tantas gerações e de tanta vida
esquecida
lapidada.

Estou ligado à fonte de coisas,
com olhos de coisas,
com coisas de signos,
uma superfície branca de coisas
(de coisas mais profundas)
que em mim alimentam as correntes
que contínuas se alternam
em busca
(não de uma caligrafia)
talvez de um detalhe
às possibilidades
de tudo que possa
inexplicavelmente iluminar!

segunda-feira, outubro 05, 2009

pequena pausa

coisas do tipo me acometem. Sei que
as rochas ganham formas e contornos no choque com o mar.
mas a quem o anúncio de formas pretenciosas é mais chão.
contudo o mar que cerca esse corpo é feito de rochas e vegetos.
a espinha de Minas passa ao meu lado,
o sol se põem mais alto, as formas... quem dirá das formas?
cada nuvem traz a sua forma e é uma questão tão de vento e céu.
tão passageiro que não se pode reduzir a nada
e se reduz em chuva, torna a sede, lava.
coisas do tipo acometem, cometem céus.
sei que, os grãos estão nascituros, férteis revelarão outros formas
e teremos sempre mais contornos.
acometem-me coisas do tipo:
eu também erro, eu também falo coisas desajeitadas,
como todos
eu também aprendo!

agora um silêncio...

... adiós!


www.fabiaolima.files.wordpress.com

sábado, outubro 03, 2009

a Primavera

Chega de mansinho a primavera,
no caminho para as borboletas,
chega de vermelho tom de rosa
e rosa no frescor do jardim.

Chega assim, com ipês amarelos,
com o lilás das buganvílias,
com os cravos sortidos e as alvas margaridas.

Chega de botão em botão a desabrochar,
com um ar de pólen no ar,
com pássaros diluindo no céu
plumas e cantos de açucena.

Chega num poema atrasado,
de begônias abertas e amores-perfeitos,
com motivos de lírios e dálias.

Chega com rubros de tulipa
e claros de dama em noite de baile,
chega com toques de gardênia,
com luzes de girassol
e com bailes de verônica.

Chega de mansinho, a primavera,
no caminho dos insetos que zunem
na manhã colorida da estação secreta
da vida!

quinta-feira, outubro 01, 2009

Manifesto palavrar espacial

Há (será?) espaço e palavra!
Haverá espaço para a palavra nascente
como adjunto do corpo e mente?
Pensada a palavra tem vez na tez,
no talvez da lente, no reflexo do flash?
A palavra no quadro falso negro,
no centro negro – palavra escura,
palavra de pensar em volta
palavra de revolta que volta impura.
A palavra fétida eclodindo do bueiro,
a céu aberto a palavra escorre
decorre sobre horas, filos, rios...
A Palavra que há sentida
e refletida tarda o rasgo da amarra.
A Palavra de Huang Che tem pegadas de estrelas
e revira o espaço sideral.
A palavra escrita não se explica, não se aplica...
nem Lacan, nem Bakhtin ou/e outras teorias.
Nem o talvez do sim e enfim o não do nada...
A palavra lavra, é larva descendo
um dia vai queimar o que não for pedra
a pedra tornará a ser o que não fora
e restará o que se pensa ser o mito.
É preciso construir a palavra como um baluarte,
uma represa, um farol, um moinho
Um símbolo despido do símbolo...
será impossível?
A palavra se denuncia na fala, no plano
do plano espacial.
Quer seja escrita, quer seja escrota,
quer seja rota e quer seja nova...
quer seja igual verbo e o verbo seja distinto:
a palavra é o ponto
e o ponto é infinito!

sexta-feira, setembro 25, 2009

escrituras

escrevo tão mal e ainda teimas em ler
cada linha reta na tortura de pensar
que se não me fosse permitido escrever
eu para o mal alheio viria de pintar.

Só porque talvez eu necessito me expor
sem que alguma vírgula ouse dividir
qualquer ódio que desabe sobre o amor
e mesmo o amor que chegou a não partir.

escrevo pela estrita escrita de remir
o que em mim nunca hei de encontrar
e é como um desejo de chegar a partir
ou como certeza de não falar sem calar.

sexta-feira, setembro 18, 2009

...

Disse o imperador
que a história é uma versão
na qual decidimos acreditar
.
Talvez eu devesse não acreditar
no grande imperioso:
ele faz parte da história!

terça-feira, setembro 15, 2009

álbum esquecido

A pouca luz, a pouca sombra,
o sopro poente fremi...
Essa presença, esse perfil,
esse movimento silencioso do tempo
torna perplexos-ecóicos
os sentidos do corpo.


Mesmo que as palavras
adormeçam suspiradas,
detenham-se em sonho
com soslaios rudimentos,
mesmo que a sinergia dos amantes
fecunde solos áridos
e lance anelos e rupturas
e negações concubinatas,
encolherás todas as fibras
à recrudescência das nuvens
para sorver suavemente
as líquidas quimeras do teu relicário.


Alada suspeitas Ismália e voas
ambivalente... sobre o éter,
sobre os medrantes estorvos
do que infinda nas mãos, nos olhos
e resta acre sobre os lábios
como sombra, como luz
como marcas e resquícios...
como o infinito...

quinta-feira, setembro 10, 2009

Ao teu lado

Ao teu lado eu sou mais rente
à luz e à sombra, ando no meio das horas
sou tanto são quanto demente.
Ao teu lado eu sou febril e fremente
de um amor assim sem limite
que assiste a alma das cores
e a minh'alma deixa ardente.

Ao teu lado sou o sol e a lua
sou a natureza avançando os continentes.
Ao teu lado o universo é pequeno
e eu posso pular os mares e os oceanos,
ao teu lado os meus sonhos têm relevos
e são profundos os meus planos.
Ao teu lado inexiste os enganos
eu fecho os olhos com um jeito mais seguro,
e sinto a propriedade do orgulho
de te ter ao meu lado e sempre.

Ao teu lado eu sou adolescente, sou criança,
sou um ser nascituro e imaginado,
ao teu lado eu sou o teu lado, teu número,
ao teu lado sou a essência da vitória.
Sou a força e a coragem, ao teu lado,
sou a folha, sou o tronco, sou a raiz.
Ao teu lado sou um deus sem pecado
e divino, sou o homem mais feliz!

sob um poema doutro poeta (confidência poética a Professora Maria Regina)

Querida Maria, tenho sentido a despedida
de um velho império como o Império Asteca
e, às vezes, me sinto uma veste encardida
ou como um fantasma dito de um morto poeta:


"súbita mão de algum fantasma oculto
entre as dobras da noite e do meu sono
sacode-me e eu acordo, e no abandono
da noite não enxergo gesto ou vulto."


Perambulo horas de leitura, silêncio besta
entre as primeiras horas de um dia triste
e penso que hei não de ter o que mereça,
não ter escolhido um erro que ainda insiste.


E fico sem saber, caduca palavra sem trema,
se teimo que esteja negro meu coração
ou se tudo é culpa do Pessoa, do poema
escrito pela sombra virtuosa da ilusão.

quarta-feira, setembro 02, 2009

distâncias de ontem

Amei os passos que subiam as trilhas da serra
e contudo me esqueci de como eram,
nas noites escuras os caminhos conhecidos
eram desconhecidos e a poeira invisível desaparecia
no cansaço da chegada.
Amei os luais e as canções e o vinho adocicado e a cerveja amarga,
a estrada de pedra que conduzia a capela,
a Santa Helena, padroeira desses destinos.
Amei o olhar de uma cidade iluminada,
as águas que corriam à queda pelas pedras,
as árvores tão altas quanto os prédios
e um lago que um caminho contornava.
Amei as orações sobre a árvore e nas torres fechei os olhos,
o vento forte que levava as mágoas, amei.
Porém todas essas lembranças me levaram para longe!

sexta-feira, agosto 28, 2009

Auto-

Eu sei que julgo
e que sou, quando julgo,
injusto.
Mas aquilo que em mim
desprezo
é a transferência
do que percebo incerto.
E cobro
e erro o preço
do meu próprio termo.
E ponho regras aos sentimentos
e crio meios de relacionamentos
e suponho,
principalmente suponho,
suponho muito.

Às vezes dou forma de culpa
e culpo a mim
e desculpo a mim
e não desculpo quem tem culpa.
Penso que sou justo,
acho que sou único,
vejo somente a minha miopia:
nada vale a utopia.
Eu sou o umbigo da coisa!

quarta-feira, agosto 19, 2009

demonstrativos de amizade

Esses veem
aqueles vão
estes não!

sexta-feira, agosto 14, 2009

Dome (qualquer coisa como perder o medo da música)


www.aamigos.com.br



Precisa-se perder o medo da esquina, o medo da curva, o medo da última
virada...
o medo das outras e outras outroras, o medo da glória da perda, o medo
da história...
o medo do medo do agora em diante, o medo dos distante, o medo de depois
do antes...

Precisa se perder em horas de autopoesia,
perder-se em versos antúnicos de descrença
e criar e criar e criar sem tanta filosofia
ou ausência:
"o que se crê não se cria!"

sexta-feira, agosto 07, 2009

depois de cinco

galeria.brfoto.com.br

do fio fino do horizonte
uma ponte
conduz o ocaso!

quarta-feira, agosto 05, 2009

o porquê do poema!

Confessar em cada palavra,
em cada verso querer o impossível:
organizar o caos do universo.
Sentir o que se pensa, pensar o que
se sente
é de uma complexa crueldade.

Viver – jamais conviver com o começo!
O começo de toda estação é plena
e as árvores
ainda não possuem a coloração das folhas.
Viver sem entender!

Confessar o gesto que move e o olhar que olha,
os corpos e seus desejos repentinos e ardentes,
uma canção para cumprir o inconfessável.
Sentir o que se situa na sintonia
dos sentidos
é de uma profícua verdade.

Acontecer – nunca conter um só desejo!
O desejo de uma única vida é perda
e os sonhos
deixam na mais pequena realidade um nódoa.
Acontecer sem temer!

Confessar-se em cada poema,
em cada obra destilar o inesperado amanhecer
de um regalo, de uma esfera cristalina.
Sentir o que se ama, amar o que
se sente
é de uma transitiva eternidade.

sexta-feira, julho 31, 2009

pequena canção

Tudo em mim se apreende de distâncias e presenças
de tal maneira que o silêncio desentende a voz.
Tudo em mim pesa ambiguidades nascituras:
duas mãos - razão de possibilidades abstratas...

Meu coração é tudo em mim, além e quando
não bate todos os seus ritmos, não sonho
o dia de encontrar todas as manhãs sorrindo
e todas as nuvens vagueando e o sol ao sol...

Tudo em mim anuncia um erro de cálculo
e traz o sumo, e mostra a seiva, e resta a polpa...
Pois tudo em mim dança a canção que é sagrada
e em movimentos se inteira de fragmentos.

segunda-feira, julho 27, 2009

aquáticos

Um pensamento qualquer: água...
desvios de raciocínio: rio...
falta de síntese: mar...

sexta-feira, julho 24, 2009

o encontro

era uma tarde de cores rubras
e o sol se precipitava sobre a serra
e a lagoa calmamente respirava
o bailar dos corpos submersos.

havia uma casa de paredes duras,
de pequenos tijolos expostos em retas
que o ocaso, de novos tons, tateava
com suas mãos e dedos ternos.

e um menino esperava de alturas
um velho poeta de eternidades certas
com o olhar que não se aquietava
mesmo defronte do menor universo.

quando de súbito aquela frágil figura
surgiu de uma órbita secreta
e se inclinou a outra mão que se anunciava
e abraçou com os olhos todos os desertos

e a noite trazia suas nuvens escuras
mas aos olhares não se atrevia pressa
e cada estrela no céu se acomodava
e o menino tecia versos, versos, versos.

terça-feira, julho 21, 2009

pequenas linguísticas

Não é o movimento que torna à linguagem,
não é a linguagem que torna ao movimento:
antes tudo abstrato.

Não há trato com o inesperado,
não há contrato possível de sorte:
cada qual, cada caso.

Não se movimenta o tempo em silêncio,
não se temporalisa o silêncio dos corpos:
sempre teimam ruídos.

Não reage o ponto à frase,
não resta mais períodos comumente simples
de nenhuma ranhura.

São tão desertas as bélicas dicotomias,
os duplos que em tempo devem
silenciar uníssonos.

quinta-feira, julho 16, 2009

Um pequeno poema para dias de felicidade?

Como se estivéssemos livres
rondamos nossos sonhos
inspecionando suavemente a
superfície da vida!

terça-feira, julho 14, 2009

amor diante

Ser em si momento,
monumento do agora
sem o que passa
e ultrapassa o movimento
sem pranto,
sem vaidade,
sem a menor noção
de vir a ser.
Ser o império do ser
presente do ausente,
sem temor,
sem tremor,
somente,
entre um verso e outro,
o amor,
o amor,
o amor diante!

quinta-feira, julho 09, 2009

inquietações da escrita

Não,
não se escreve por razão,
é sobre o corpo algo preciso,
calado
e
sonoro,
algo que ilumina,
algo que água a boca,
perfuma
e
adoça
e
fede
e
salga,
algo de sentidos próprios,
algo de perceber desatento,
sentimento
e
intento,
algo que se atreve,
algo de resposta ao vento,
nada
e
tudo,
algo que de tão preciso...
algo que de tão metafórico,
pertuba
e
aquieta,
algo que escapa frágil
e
se oferta intenso.

sexta-feira, julho 03, 2009

poema aos aparatos gráficos de Aníbal Machado

...


(POR DENTRO DO SILÊNCIO)




dentro da pedra esperaR
debaixo das águas sorriR

o silêncio sem populações,
a cidade desfeita das cidades,
o rastro anulado no vento,
e todas as palavras adormecidas


...

sábado, junho 27, 2009

movimentos

É simples mover palavras,
dar-lhes diferentes funções.

Difícil é se mover com elas!

É preciso saber os olhos
que compreenderão seus movimentos!

quarta-feira, junho 24, 2009

Lá de cima

Cá está a entrada
entre troncos mortos fincados na terra
a sustentar arames de farpas.
Não inaugures com teu passo
novos passos sobre o velho caminho,
a velha trilha de terra, de pedra, de areia
que subitamente te leva àquela serra.
Não penses um só passo
diante do adiante tão afoito
de novas curvas, de novos ramos debruçados
sobre um decline e outro,
de novas estratégias de caminhar
sempre em frente de presente.
Não lance tuas pegadas
pelas propriedades desconhecidas,
não pules esta cerca, este limiar de privações.
Não ouses avançar sobre a serra:
esse adorável relevo de proporções diversas
e suas veias secretas murmurando entre as rochas.
Não teimas tanto esforço sobre suas fendas,
não deites tanto suor nessa geografia,
nem tentes te elevar em movimentos bruscos.
Lá nada existe, é alto, é vago
e como diz o ditado tem outra serra em suas costas.
Se desejas isso, que venha e mire
esses desníveis e tudo que lá está longe.
Daqui os ventos se desfazem para tomarem todo vale,
os olhos seguem suas distâncias,
a boca grita ecos, o ar é mais frio
e os ventos voltam com mais força.
Lá está a porteira de teu atrevimento,
lá está o teu rastro, aquele teu caminho
e cá estás com teu cansaço, com tua sede,
com tua respiração trôpega, com teu espanto
e enfim podemos rir do alto, na serra.

domingo, junho 21, 2009

para você

Somente nós dois
e tudo em volta
quase sem muito sentido.
Flores que voam,
dias que brilham,
noites que beijam de olhos atados
pelo amor,
como fazemos diante
do tempo,
sempre a ignorá-lo.

sábado, junho 13, 2009

um ponto ou outro (os detalhes de um desencontro trágico)

Você não é o mesmo:
depois daquela noite
tudo aconteceu tão rápido!

Você não deveria estar aqui
tentando me convencer
que as coisas dependem...

- Dependem de nada!Dependem de p. nenhuma!
Ou se faz ou não se faz,
um ponto ou outro e só!

Não deveria estar aqui...
Mas se você veio, entenda,
eu só não sei o que dizer.

Talvez não esperasse que você fosse ficar,
limpando marcas, retirando evidências,
reconstruindo cenas confusas.

Eu também não sou o mesmo:
depois daquela noite, eu sabia,
nada teria a mesma dimensão, nada!

quinta-feira, junho 11, 2009

sonho de uma tarde de outono

Os namorados sentados no alto da serra,
muito pertos um do outro,
abraçados pela noite desbrasada,
lançam um só olhar sobre a cidade.


Ouvem sua primeira música,
sentem seus primeiros sonhos,
teimam aquecer o vento frio
que os ultrapassa assoviando.


Pouco sabem sobre o depois,
nada além os separa do agora.
As mão unidas, os dedos entrelaçados
pretendem tecer sua memória.


Apenas amam
tudo que podem
porque
em tudo estão.


Os namorados são namorados apenas porque assim são chamados: na-mo-ra-dos!
Se para eles apenas as estrelas fazem sentido ao infinito,
apenas as estrelas, apenas sua distância, apenas seu universo
e os beijos molhados suspirados sob a lua cheia.


Por isso, sobre um relevo de corpos
duas almas se envolvem de estrelas
e vão ao léu pelo universo
repousados no manto do amor!

segunda-feira, junho 08, 2009

Abraços

a João





Acordar e abraçar
o pequeno ser ao lado,
cria de alguém criado
para o amor sem limite.

Acordar e o apertar
nos braços, ressentí-lo
nos braços e sentir seu coração
bater no peito - perfeito!

Abraçar seu nome
e seu olhos claros, azulantes.
Abraçar seu jeito e gesto
de um momento e instante.

Abraçar seu riso,
seu sorriso de dentes,
seu corpo frágil,
seu amor de manhãs...

Adormecer e seguir
o mesmo rito
e até fazer dele em si
mito.

E adormecer e sonhar
seu ser
nunca distante
sempre em abraços!

quarta-feira, maio 27, 2009

Folhas são!

www.kboing.com.br





Não...
as folhas caem naturalmente
nas aguas do rio,
naveguam.
Enquanto as pedras fazem pose
de aranha, de objeto
no incurso
do descurso!

Não...
as folhas, marginais que são,
ao tempo, não
pedem explicação.
Quando fólha à correnteza
dos cuspis espumantes
nunca tem certeza!

Não...
as folhas têm outono
para se lançarem
secas.
Enquanto em quedas,
em desníveis
espraiem-se entre as metas:
natureza?

sábado, maio 23, 2009

um confissão, um e-mail

Querida Maria,

há muito não lhe teço qualquer alguma consideração. Posso lhe dar uma quase devida explicação: é por necessidade monográfica ou por não saber escrever, ao certo, corretamente. Acho que não tenho em mim a língua positiva, nem espero pelo "quinto império", segundo Padre Antonio Vieira. Estou faz duas páginas do mínimo exigido para o término de tal texto e não encontro uma saída. Eu sempre fui péssimo em compromissos, mormente nos precisos textuais acadêmicos, em que se forjam a competência e o espírito crítico e a desenvoltura de raciocínio linear. Acho que devo me assumir não competente, alguém que pensa em círculos. Um mestrado seria o cúmulo para meu desprendimento agora. Antes de tudo pesquisava tudo, com precisão, com devido cuidado ancestral, com presença tônica e lia, lia, lia. Hoje não leio: fragmento pensamentos. E a minha presença, tanto átona, quanto ambígua. Ai... saudade de suas aulas, das suas explicações de colocações pronominais. É-me necessário advertir que minha escrita é arcaica e meu egoísmo é imensurável: eu sei. Mas antes que eu mesmo me subtraia, há algumas gentes que não me salvariam de mim mesmo, nem da minha vã filosofia. A ideia não irá por diante, não hei de aproximar-me do ridículo da cobardia. Escreverei a esmo relatórios e pés de páginas, doutro jeito alguns sofismas e referências diversas. Contudo não acredito, essas grafias eram a ser uma mensagem de acolhida e vejam em que deu: uma confissão chata e atrevida!



Obs: Maria Regina, minha eterna professora de Morfossintaxe!

terça-feira, maio 19, 2009

Um poema Composto

Um dia pensei que era preciso
mais vozes soltas para se ter um poema,
era preciso um sonho de imaginar!
Pensei, então, em escrever um poema formiga:
pequeno, um poema como uma raiz,
que penetrasse dentro da terra.
Pensei em escrever um poema borboleta
(que, antes, fosse um poema lagarta)
com várias cores e que move suas asas com beleza,
um poema de diversa natureza.
Também pensei um poema pássaro
Com vôos rasantes e piruetas no ar,
mas ao imaginar um poema pássaro,
veio-me o gosto de um poema céu,
e do poema céu fluiu o imaginar do poema sol.
Mas quando pensei o meu poema sol,
lá de longe, veio alguns poemas nuvens
e o encobriram.
Pensei, então, num poema de vento,
que soprasse para longe aquelas formas,
mas imaginei um poema de chuva,
de gotas caídas do céu,
um poema líquido, um poema que lava,
um poema para depois secar.
Imaginei um poema arco-íris,
um poema colorido para depois das águas,
que viesse entre os poemas montanhas,
cheio de relevos e ondulações.
Também um poema como aquele,
De um poeta bem distante: o poema
Em linha reta.
Mas o poema mais bonito,
o poema que me inflama os olhos,
o poema que não diz, nem tateia,
é o poema sonho
que além do que imagino, existe!

segunda-feira, maio 11, 2009

Sobre teu coração, amor

foto:www.prahoje.com.br




Sobre teu coração
que bate acelerado
eu sou um homem
feliz e apaixonado.

E ouço tua respiração
e sinto o teu querer
e sobre teu coração
eu posso adormecer!

sexta-feira, maio 08, 2009

medo do outro

Eles têm medo do outro:
tanta igualdade,
pouca diferença.
Falam para calar,
para esconder
que não suportam escutar.
Medo!
Medo de serem descobertos
fracos como todos,
tentam ser fortes
pisando sonhos alheios.
Não se bastam
e não prestam à mudança.
Com olhos obtusos invejam
quem tem mãos,
quem move crenças
e decerto não viverão
(ou viverão à míngua de)
de tão medrosos!

terça-feira, abril 28, 2009

sOnOletO

Olhar este teu
tão findo
não crer me faz
velar, homem, senão morrer.


Infinitos são múltiplos,
olhos de depois não ser
inundados, que deveriam
a crer recuso, recurso, do improviso.


Antes me pertube,
perdoe para eu lembrar
do soneto, eu daquele escrevia...


Não, o caminho, abandone,
não coma no Mc'Donald's,
ouvidos não dê-me!

Olhos para quem te quero




A câmara supra
sensibilíssima
revela a imagem
de um sentimento.

Única sinalizadora
como uma digital,
reflete cardiologias
púrpuras visuais.

Enquanto retina
expõe-se deusÍris
num sistema nervoso
à mostra da ótica.

Amplia reduções,
diversos pontos absurdos
em pequenos mitos:
ver é dar sentido!

domingo, abril 12, 2009

Volumes também amam




Ah! Que volumes também amam!
Não amariam (?)
se por amor homens pisaram a lua,
dobraram papeis inutilmente,
manhãs se perderam em formas distantes.

Ah! Que volumes se aprazem!
Não teimariam
subtrair quantidades e tamanhos
consideráveis de puro prazer repentino.

Ah! Que volumes são úteis!
Não seriam (?)
Se somente a isto eles se deram:
satisfazer quando preciso.

Ah! Que volumes imperam!
Não diria tanta geometria:
são apenas sombras
alguma necessária alegoria.

Ah! Que volumes amam, amam!
Mas a quem importa, se urge
do necessário a obra,
se a forma é a própria poesia!

Canto Venuto

foto:www.bp3.blogger.com




A história explica essa data,
mas a história não me explica
esse domingo nublado.

Há coisas que não se misturam
e em verdade são ditas entre tantos
estranhamentos mais claros.

Fiquei com vontade de olhos
e de teu sorriso a minha frente
compondo um instante.

Por onde estás és um pensamento
agora de subitamente já
trajado de cores.

E uma música toca, e uma rede balança
numa dança silenciosa de uma idéia
e nenhum é quando.

A estória conta algumas nuvens
uma manhã de imaginações viradas:
todo silêncio pode!

sexta-feira, abril 10, 2009

As estacas

(...)

No terceiro dia
pela manhã
as três primeiras estacas

três dias depois
outras oito estacas
mais altas

no fim de duas semanas
todos estavámos.. podíamos ver
a grande muralha

Depois de tantos anos
o cerceio do olhar longemente
trouxe a revolta

Os confrontos fendiam décadas
as quixotescas manobras de virtude
consumiram gerações

(...)

Mas no fundo dos séculos
todos sabiam que o grito devia
ter nascido nas estacas.

terça-feira, março 24, 2009

em você

em você seria um fruto pequeno
que amanheceria crescendo
e nas noites mais calmas
não deixaria você dormir.



Talvez brotasse na primavera
mas no inverno teria cuidado com o frio
e depois de um certo tempo
traria movimentos que lhe faria sorrir
tanto quanto tivesse dentes.




depois nasceria anunciando a sua chegada
inesperada de inesperados sonhos
e em você adormeceria a primeira liberdade
frágil à procura de seu alimento mais doce
e a vida seria em você minha vida e meu amor!

quarta-feira, março 18, 2009

amiga aquariana

a Fabíola




Sem pressa de se apressar
e com um passo largo e inalcançável,
ou com as noites e os dias entre os dedos,
dispondo desses anéis para quase tudo
e se esquecendo de alguma coisa no momento certo,
com rumores sobre esses momentos
(momento certo é aquele criado com exatidão de perfeição,
que só assim se pode desenhar. Ou aquele que é primeiro sonhado
e depois é um risco, um lance de se lançar)
cheia de pensamentos esquisitos que às vezes é melhor nem falar:
que outros, quando se deu, já falou!

Tentando não se repetir sem quase querer,
construindo pontes com dois gravetos,
inventando mais do que devia ou explicando concepções
em busca da mais complexa ideia de tudo
(e achando tão simples tanta complexividade)
enquanto olha, observa, pensa... Ah, deixa para lá!

É quase sempre assim que sinto teus tatos
e assim me emociono,
sinto-me feliz
quando estás por perto!

domingo, março 15, 2009

tremores

O primeiro tremor
e os olhos densos, pesados,
ardendo
os ácidos mais intrépidos;
e os lábios sufocados,
prendendo, retendo,
encarcerando
os gritos mais violentos;
e as mãos sem motivos aparentes,
delirando, desfazendo,
tateando
texturas imaginárias;
e o ventre recolhido,
contraindo, revolvendo,
distendendo
o mínimo rechaçar da razão.



O próprio tremor em si
e o outro feito louco, mouco,
arfando
os sons do universo mais cinético;
e a língua outra perversa,
provando, paladando,
aluindo
cada pequena reserva do intenso;
e os dedos outros precedentes,
apaliando, inquietando,
aprofundando
sentidos adormecidos;
e o corpo outro sobre este,
suspenso, sonhante,
explodindo
com foraz sofreguidão!

terça-feira, março 10, 2009

rumo novo

Há certas noites que se parte
como um sentimento desconhecido
sob uma lua não mirada.
São noites de uma beleza lapidada
pelas dobras do tempo.
Em silêncio nos entregamos a magia
de caminhar um pouco distante,
entre passos confusos
entre olhares certos
sob constelações imaginadas.
Então nos lembramos de trechos coloridos
e nos percebemos aquarelas
e nos sentimos sorrindo baixinho
um riso maior do que todas as noites,
um riso de vida
percebendo o novo!

segunda-feira, março 09, 2009

Volta e meia

Volta e meia
a vida dá voltas
em torno dos sonhos.
Faz que vai e não vai,
diz que fica e se manda.
Leva coisas de apego estranho,
deixa coisas de leveza terna,
realça piruetas
e dá voltas,
volta e meia!

sábado, março 07, 2009

lumes

Prometeu
luzes
como fogos
e reluzentes
reflexos
iluminados
e outras
claridades,

mas concedeu
o escuro
e instrumentos
de lumes!

domingo, março 01, 2009

Às vezes eu fecho os olhos,
ponho as mãos sobre a boca,
encolho-me nesse pensamento
quente que arde na manhã e
que na noite queima em
gélidos movimentos de tocar.




Às vezes eu canto baixinho,
ponho as mãos nos olhos,
faço gesto de adeus e deito
com o coração calado e frio e
com a ternura de uma lembrança
que já não pode chorar.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Eu Nunca Saberei

www.flickr.com



Eu nunca saberei o que seria se
ao lado de você eu vivesse em
mudanças latentes de conduta e
esperas atiladas do além.

Nem poderei dizer-me feliz pois
estaria a dissimular velhos sabores, não
estaria sequer decompondo sóis
de um possível triste verão.

Não haverá discursos violentos mas
não se impressione com o mesmo
tom suave, se há in-certa paz
conforme a violência do beijo

provocaria uma onda, um frenesi ou
de uma imaculada sensação eu
deteria-me ao dizer quem sou:
a verdade (nossa?) num museu.

É tão triste sentar a beira da estrada,
perceber a borboleta no arame farpado
da cerca e crer na certeza inexata
da vida, se a tivesse tocado!

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Sonho estranho, sem inspiração

Assustei-me,
não tenho mais medo
de certas coisas que antes certamente me fariam tremer.
Antes do medo do homem, o medo das coisas,
antes da dúvida,
antes das guerras, antes das táticas,
antes daquele há pouco presidente terrorista,
antes dos assassinatos por pequenas porções
da mentiras químicas e similares,
antes dos grupos paramilitares,
antes de castelos de interior,
antes da fome, da sede, da miséria dos prazeres,
antes dos esquemas, eu temia certos sistemas.
Mas... assustei-me,
medo não há, não mais.
Há o susto permanente com um jeito de pensar
para fora e para dentro.
Assim, como um sopro para o silêncio...
Eu sou assim e estava andando pelos passos
de pessoas que eu nunca acreditei,
deixando pegadas imaginárias às ilusões das dobras.
Mas o dia foi mais claro e as nuvens me refizeram,
trouxeram sonhos limpos e sonhos sujos
e eu mergulhei sem respirar
nas minhas águas mais profundas
onde eu céu desperta com a noite
e adormece com o sol
e sorri, pois todos sorriem sem saber
(não espere que eu saiba de nada!)
e longe Bob cantava:
"Vocês riem de mim por eu ser diferente
e eu rio de vocês por serem todos iguais!"

domingo, fevereiro 15, 2009

a última viagem

um semelhante,
penso: jamais igual.

Meu ontem me delata:
100 km de pedal.

Muito o sol, a água,
muito o alimento.

Tamanha a batucada aurora:
o candombe, o canto negro!

Não cabe à memória:
transborda amarrotado!

Sou meu canto
precipitando um desfocado...

Cada gota, o suor:
um arranjo a cortar o vento.

Amacia a noite, adormece:
ontem faz tempo!

Olha o rio cipó, molha
a mão no atlântico amanhã.

Penso: diferentificidades!
Sete horas da manhã...

Era antes e agora é nada:
um espinho no caminho.

Todos estavam onde estavam,
aconteceu, foi partindo...

Nascituro dia, prematuro ano,
quanta poesia poderia...

Não! Não adoça o sumo!
Mudo, o novo gritaria?

Nada de covardias cardeais:
os iguales, estes vazios.

Semelhantes, desiguais:
Um sentido maior sob os sentidos!

terça-feira, janeiro 27, 2009

intuição pelo olhar

o objeto cá e lá existe
e aqui estou para dizê-lo,
mas os olhos que miram tudo o que
é o objeto, um objeto,
não posso sequer imaginá-los!

segunda-feira, janeiro 26, 2009

indicações pessoais

para Brenda Senna




Há pessoas que não acreditam nas pedras do caminho
e se dedicam a observar atentamente cada passo.
Orientam-se por seus desvios,
volvem obstáculos para seguirem.

Há pessoas que por outro modo caminham,
mas sempre param num passo maior
e em pequenas andanças fazem círculos e círculos
com os pés.

No entanto,
(e por bem que elas existam!)
há pessoas que são seu próprio caminho!
Se há escadas voam, se muros, saltam.
São pessoas que nasceram inquietas,
que são justas com o vento
e que caminham
descobrindo-se em cada miragem,
tateando cada movimento!

domingo, janeiro 25, 2009

quem é Abilou?

Abilou... tua pele negra brilha...
é linda!
e teus olhos escuros como a noite,
e claros como as nuvens de Angola!


Um dia eu viajo para longe
e te encontro caminhando
sob um sol árido de inverno.


Dirás algum cumprimento
e eu te desenharei um sonho esquisito.


Nada, nada de aprontar mãos para gestos vazios:
sem adeus,
somente um teu sorriso
e um sorriso meu!

sábado, janeiro 24, 2009

Teus balanços




Teus balanços me balançam ainda ontem:
antes de adormecer movias em mim qualquer amarelado suspiro,
mas hoje tudo poderia ser dedilhado como um esporte antigo,
desses que ultrapassam as horas e horas e horas...
Talvez se da lembrança tardasse
o sol na extremidade do olhar fazendo do teu ir e vir
um cansaço de mãos e passos.


Eu não me afastava um só instante de teu baile.
E subias e subias e subias e descias e descias e descias
como uma princesinha do céu e do chão,
da mais alta torre, do mais alto castelo
ou de qualquer janela da mais simples casa,
uma princesinha de pés descalços,
rindo-se de seus pendulares trejeitos...



E eu dava a teu corpo uma certa força contínua
para que o teu riso explodisse celeste...
E sorrias, sorrias como se cada movimento fosse o próprio nascer e morrer.
E nascias e morrias e tornavas a nascer feito bailarina
girando, girando, girando solo
num palco vazio e iluminado...


Não te atrevias a parar,
nem o balanço!

sexta-feira, janeiro 23, 2009

dia esse!

28 verões quase completos,
um amor ao verso que persiste.
um bom papo interrompido
outras formas alteradas
escuro e claro
e o universo fluindo
por todos os lados
e dentro!

quarta-feira, janeiro 21, 2009

uma vela para Baba Yaga

uma vela escura para Baba Yaga,
para queimar passos antigos,
para apagar as pegadas
e as sombras mais negras do que a noite.

uma chama que queima os medos,
que jaz do corpo o desnecessário
e que traz a manhã mais clara
entre tantas futuras manhãs!

sábado, janeiro 10, 2009

registrado

olhares.aeiou.pt





Tudo que o amor registrar
o fará em pedra
para eternidade dos ventos.
E as eras hão de ocultar
cada verbo:
depois da chuva,
enquanto noite
antes do amanhecer.
O amor criptografado,
esculpido em sonhos
e desenhos de enseadas.




Cada ranhura perpetuará
o signo da plenitude
nas paredes do tempo, amor,
em traços profundos,
com cor distinta
em cada relevo mineral!
O amor assim será antigo,
suspeito de caminhos,
e indicará que há perdão,
mas que o menor toque pode queimar
as mãos.

evolução em meu blog

:

agora os spans vêm
em dois
ou mais idiomas!

terça-feira, janeiro 06, 2009

PROPOSIÇÃO (com ou sem anexos?)

Vamos ao que interessa:

eis o avanço de datas marcadas,
eis o trabalho,
eis o um pensamento deitado -
que não é pão da manhã,
nem azeite sobre a massa
- eis aqui o começo do fim
de uma década esquisita
para sempre!

Lições de casa:

1. Gastar olhares e suplementos;
2. Persuadir-se a reflexões;
3. pautar e pautar-se (pau-a-pau);
4. valer-se do capitalismo;
5. Sorrir sempre que puder.

Diria alguém que gosto:
"vai dar p.t.!"
Por isto, tempos de quietude,
músicas suaves, Jazz Hortiniano,
textos científicos (sem as maldades e as bondades dos personagens,sem paisagens de lembranças ou imaginárias), enfins despretenciosos...

qualquer que seja a idéia que tenhas, escrevas.
Caso contrário ficarás como eu,
imaginando novidades estranhas
que de nada servem,
que nem há em conceito.

placa RAR1981:
bem traçado, lógico!

Obs: ...podemos, então, afirmar que a estrutura do poema depende de quebras, de rupturas que se instauram no corpo do poema representando o próprio poema antes de ser uma proposição de si?

Tipo um poema metaliterário!
Com ou sem anexos?

sábado, janeiro 03, 2009

as palavras e suas conformidades

para Bárbara de Moraes




Tem palavra que não se conforma,
outras não tem forma ainda, mas prenuncia.
Uma palavra para ser forte tem que ter claridade
e clarividência.
É um tipo de palavra da CEMIG ou da LIGHT
ou de alguma concessionária, de alguma fornecedora.
E o que seria do mundo sem os fornecedores de palavras?
Eu me lembrei de você muito.
Estava a ler Ana Cristina Cesar e me fez pensar em você,
fiquei então fuçando pápeis de espirro.
Achei um maço de palavras fornecidas por você a mim:
"deixemos cada palavra solta e elas se emaranham"!
É assim, tem palavra que não se conforma
e muda de forma constantemente.
Eu, particularmente, uso a palavra amor a torto e a direito...
Deixo o seu não conformismo para os corpos
e me intero de olhos e horizontes.
mas a minha palavra para teus olhos tem forma de desejo:
CORES para o que é novo,
para tudo que é novo de olhar
e de tocar com suspiros e exclamações
(por que além de cada palavra há as pontuações!)



com distinto cuidado

sexta-feira, janeiro 02, 2009

nesta cidade

Pela cidade estendida ao olhar confuso,
sigo e me perco indiferente.







Nela se encontra a vida que encerra
muito de minha questão existente.







Eu não me lembro em qual pretérita esquina
nos encontramos de repente,
mas lembro-me de como me deste
um olhar de cidade diferente.







Perco o passo nessas ruas estreitas,
avenidas largas, praças vazias.







Meu coração segue essa seita
que pela noite se sacia,
que se embriaga na madrugada
e sobe a serra pela trilha.
Perco os passos, rumo à casa,
quando a boemia se desfaz no dia.
Perco o passo nessas ruas estreitas,
avenidas largas, praças vazias.






Nessa cidade minha voz não silencia
o verbo dessa terra tão rouca,
tão perplexa de tão pouca, louca...
Em cada esquina uma poesia!






Nessa cidade os meus eternizados
caminham em minha companhia,
estamos serenos, sonhadores, santificados
nesse tempo de tantas vidas.
Distante daqui, mesmo que não corte
essa cidade é quase uma ferida!

quinta-feira, janeiro 01, 2009

Apologia à caligrafia

como no soneto



Jamais direi que reconheço seus ombros,
pois ao dizer-lhe, certamente, anuncio o seu corpo
e as suas ligaduras. Ao dizer lhe ombro,
proclamo seio, ventre, vulva.

Direi que tem a peculiar cultura
que conduz aos céus e aos infernos.
Direi que beira os intermédios da loucura
e que teus beijos são privilégios.

Assim, estará em minha eternidade
com seus toques, seus abraços, seus apegos,
sua música sussurrante e profunda.

Estarás nas essências mais fecundas
entre os meus cuidados e meus desvelos
tateando nosso amor com raridades!