quinta-feira, maio 22, 2008

Mudanças...

Estou de mudanças:
mudanças de espaços,
mudanças de passos,
mudanças de ângulos,
mudanças de planos!

estou me mandando de antigas ruas:
novo endereço,
novo número de contato,
novo e-mail,
novos poemas, outra sintaxe.

Estou revelando giros imperfeitos:
sabendo dos dias,
sabendo das horas,
sabendo do tempo,
sabendo que antes demora!

Mudando as mudanças de rumo!

segunda-feira, maio 12, 2008

Quando você foi com a noite

para você


Quando a noite se foi
ficou o teu abraço,
ficou o teu traço
encostado em meu peito.

Quando o teu olhar se foi
e as tuas mãos soltaram as minhas mãos
perdi a minha certeza mais secreta
de ser além de estar
e restou em mim
a ausência da tua ausência possível.

Foi exato o instante
em que eu, entrelaçado em tua noite,
mirei a tua partida tida lua
e me perdi
em fases astrológicas de eternidades
e passagens bêbadas de luzes e sombras!




algumas pessoas nos levam muito. eu que sempre fui levado e quase nunca levei alguma coisa comigo vou me sentindo leve, cada vez mais leve. deve ser conseqüência dos seguidos furtos aos meus pesares. Acabo de descobrir uma coisa: alguém leva do outro aquilo que ao outro é descuido e passado!

.dever.

Devia permanecer respirando em tua nuca
e nunca retirar
meu corpo do teu corpo.

Devia, ainda, percorrer as tuas vertebras,
morder as tuas costas
e em teu seio, devia, adormecer.

Devia suspirar instintos em teus ouvidos,
em teu umbigo
deixar minha saliva.

Devia, em tua curva mais ousada,
abandonar a razão
da minha existência, a minha história...

Devia, em ti, ser demora!

quarta-feira, maio 07, 2008

Para Bárbara

Menina, como és minha amiga
deixo teu presente exposto à revelia
para que nem todos sintam muito,
que tanto menos somos nós em poesia!
Feliz Aniversário!
Para você, contentamentos e Vinicius de Moraes confessando meu mal:

DIALÉTICA


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...



Vinicius de Moraes

terça-feira, maio 06, 2008

.desfolhagens.



Não... as folhas caem naturalmente
nas águas do rio,
navegam.
Enquanto as pedras fazem pose
de aranha, de objeto
no curso do discurso!

Não... as folhas, marginais que são,
no tempo, não
pedem explicação.
Quando fólha a correnteza
dos cuspis espumantes
nunca tem certeza!

Não... as folhas tem outono
para se lançarem
secas.
Enquanto quedas, desníveis
espraiem-se entre as metas:
natureza?

a sua poesia é sonho de recobrir vendaval

XXXVII
a Monica de Aquino





Não há coincidência no templo do tempo!

Nem há o esoterismo dos jornais.

Mas provoca-me...

deixa-me desequilibrado

o teu nome.

Não pode ser somente

por causa do meu nome,

nem por que, à vez, brincamos com as palavras.

Não pode ser somente

porque li você

e temi - conhecer seu sopro...


Não pode ser apenas

palavras que se repetem,

não pode ser um erro

de conexão,

um erro dos correios

e nem pode ser o meio

por que tento meios.

Não!

Parece que somos parecentes

e temos que nos conhecermos,

mesmo que seja por poemas

(que é a melhor forma de anularmos julgamento

e deixarmos voar nos ventos

tudo que for mais pesado)

pois não há coincidência no templo do tempo!

...

Não é porque adoro os teus versos!
Nem isso...



Esse poema é de 2006, feito para um poetisa linda que morava em BH. Ela se chama Mônica de Aquino, o mesmo nome da minha irmã, e nunca estivemos frente a frente, sempre verso a verso. Para você Mônica, toda poesia do mundo!

domingo, maio 04, 2008

.é com esse poema que envolvo minha alma em dias de espanto.


Poema em linha reta





Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.





Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

quinta-feira, maio 01, 2008

... e amando a gente ganha cores...


. Para amor falar .






Para te falar de amor
Emito sons de primavera
Componho frases de cores cheias
Com palavras florescendo manhãs.



Para te falar de amor
Trato nuvens com sopros quentes
Cultivo olhos de estrelas distantes
Penso luas de adormecer abraços.



Para te falar de amor
Cuido de desmembrar sistemas
Exploro cavernas de luzes secretas
Preservo as terras de raízes profundas



Para te falar de amor
Cato pedras de quebrar vidraças
Corto panos de trançar amarras
Parto atos de desfazer encontros



Para te falar de amor
Sinto tudo que é sentido
Busco tudo que é busca
Amo tudo que é amor!



esse poema foi composto para um grande amor, um amor que foi tanto e que tanto ainda foi um amor. esse poema ficou em segundo lugar no 1º concurso de poesia UNIFEMM. Lindo, ele se preserva puro mesmo depois do amor sangrar. a postagem é para você Babi, que por acaso gostou desses versos!