segunda-feira, abril 28, 2008

Voltas em torno do meu umbigo!

"Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão..."
a vida, um tantão de ciclos. Sei disso: tudo que vai, pode ter como certo, volta. Não ousaria dizer que as coisas em mim foram de completo, mas espero que agora o movimento anterior gere outro mais belo. Novo ciclo, sinto! Acredito que ontem o passado tentou me visitar, mas não trouxe nenhuma lembrança que me envolvesse. Na verdade, acho que voltou para buscar o resto da sua mobília. Aquelas vestes foram queimadas, aqueles poemas foram queimados, aquelas imagens foram queimadas, aquelas mentiras foram queimadas... não há nada que um bom fogo não resolva! Não encontrou nada, nem estava lá. Só havia móveis vazios e paredes caladas. A única peça que eu deixara para trás, a minha boina, estava com um cheiro de mofo e abandono. No corpo não ouve o mérito de antes, nem um tremor, nem um anseio. O peito num ritmo seguro pensou um ponto, único, final. Pensava: "com tanto ciclo como perceber esse poema em linha reta?" O que me dizia mesmo esse poeta? Nada de girandôlas, nenhum círculo, nenhuma estação centrífuga. Meu coração com seus muitos andares vazios, salas de convenções, restaurantes, lojas de conveniências, caixas eletrônicos, uma grande sala de recepção... meu coração com o meu corpo como escudo, em vigilante requinte!
Isso foi ontem e de lá para cá as coisas mudaram muito. Primeiro por que adormeci e sonhei invenções possíveis, segundo por que acordei meio impossível. Eu sabia que ontem era um dia, comum a todos os outros dias. Era um dia morto, pretérito. (...) Depois desse dia tentará um dia maior, um dia do encontro dos nossos olhares ao descanso dos corpos, um dia que novamente outros encontros se farão possíveis, um dia que não restará nenhum sentimento de medo, nenhuma indagação de erros, pois que a vida faz voltas e como universo, é infinita enquanto!

sexta-feira, abril 25, 2008

.a poesia e um de seus amantes mais sinceros.

Foto: Franz Larese, Erker-Galerie, Easter 1971, Burano, Italy


Alguns poetas dormem com a poesia,outros amam a poesia secretamente corpo a corpo, espasmo a espamos, outros fazem as duas coisas. Ezra Pound foi um dos amantes mais confessos e sinceros da poesia. Com o seu imagismo e o seu vorticismo, tratou a poesia como um homem que não tem passado e não espera um futuro, com presença! Ele foi um poeta tão importante que levou a Hemingway declarar: "Um poeta deste século que afirme não ter sido influenciado por Ezra Pound merece mais a nossa piedade que a nossa reprovação". Para os desavidos e sem contato com esse poeta excepicional, aí vai um dos poemas que eu mais admiro:


E ASSIM EM NÍNIVE



"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."



(tradução de Augusto de Campos

quinta-feira, abril 24, 2008

Belo, belo, belo

Quero o belo, sem explicação:
beleza pouca é maldade!
Quero o belo, belo, belo...
quero aquela beldade!
Quero palavra em verso,
"para que a flor do belo não se extingüa!"
Quero o mais belo universo
desses universos de rimas!
Quero a beleza interna dos amantes
o ritmo desalmado dos corações.
Quero os belos diamantes
e a beleza lúcida dos carvões!

terça-feira, abril 22, 2008

invenções!

Estou me inventando outro.

Acabo de inventar em mim
um movimento de busca ocular involuntária,
um dispositivo de rastrear inquietações!

Estou inventando circulares!

segunda-feira, abril 21, 2008

um poema em fragmentos

um semelhante,
penso: jamais igual.

Meu ontem me delata:
100 km de pedal.

Muito o sol, a água,
muito o alimento.

Tamanha a batucada aurora:
o candombe, o canto negro!

Não cabe à memória:
transborda amarrotado!

Sou meu canto
precipitando um desfocado...

Cada gota, o suor:
um arranjo a cortar o vento.

Amacia a noite, adormece:
ontem faz tempo!

Olha o rio cipó, molha
a mão no atlântico amanhã.

Penso: diferentificidades!
Sete horas da manhã...

Era antes e agora é nada:
um espinho no caminho.

Todos estavam onde estavam,
aconteceu, foi partindo...

Nascituro dia, prematuro ano,
quanta poesia poderia...

Não! Não adoça o sumo!
Mudo, o novo gritaria?

Nada de covardias cardeais:
os iguales, estes vazios.

Semelhantes, desiguais:
Um sentido maior sob os sentidos!

sábado, abril 19, 2008

Haikai para Taís




Pedra-pomes
Alma porosa
Aos pés do teu nome!

Soneto do amar em Flor


Hás de silenciar a tua voz em mim
enquanto calar a minha boca na tua
e haveremos de sonar a mesma melodia
como sussurram nas frestas a ventania.

Hás de comungar comigo as noites frias
de onde vem os sonhos dos amantes da lua
e haveremo-nos lívidos e adormecidos
como adormecem os amores incandescidos.

Então seremos, sobre o sereno, consumidos
"em fogo, em brasa, em carne, em vida"
e que o mundo não duvide do amor.

Como não duvida dos traidores e dos traídos,
dos carrascos e dos tiranos, dos suicidas:
que a cada golpe do medo nasça uma flor!



escrito em agosto de 2006

Para Vocês!

POEMA DE OUTONO
a Carmela, a seu amor e a sua cria


(Quando dois olhos?)

Digo um jardim numa língua distante,
teu nome tem flora interna
e divinamente anuncia o mundo.


(Quando se encontram?)

Digo o teu amor e ao teu lado
torres se erguem, defende com cuidado
os homens e seus sonhos.


(Quando se amam e geram?)

Digo o nome: Maria! Insisto: Eduarda!
O universo continua protegido!
Ela é soberana! Cuidará dos jardins
com cuidado, com entrega, com amor!


(Quando Olhos?)



Ricardo Aquino

sexta-feira, abril 18, 2008

meus olhares oitavados

é lindo ser oblíquo!
apraz ser um sopro átono!
a mesma mirada de Ésquilo
deflora os velhos toques cálidos!

Dê-me a tua vênia, teu salve
que me salva o ingresso no alto!
Dê-me escalas dos olhos, deita-me fausto
entre cores e cheiros e veigas!

Pois que é lindo o desalinho!
é lindo as atmosferas líquidas,
é lindo ser um ser sem destino,
a evaporar em busca da palavra mítica

que nunca desdenha a alheia desgraça,
nem se vangloria do desengano,
a ele música é o grito do horizonte humano
que desprende olhos, que não se basta!

segunda-feira, abril 14, 2008

posição

Do lado de cá,
visto o que é ímpar,
há duas possibilidades de sol:
uma do quebra-mar,
outra do farol.
Do lado de lá,
rente ao que é par,
há infinitas imaginações:
tantas que são,
outras que tal!

sábado, abril 12, 2008

O melhor encontro da vida

Este poema é dedicado a você! Você que vai me ajudando a decifrar o mundo, tornando o caminho sempre mais colorido! Amo você,meu anjo!




A vida é assim:
medidas de uso,
janelas de escape,
alguns parafusos
e dias ruins!
A vida é assim:
um pouco de treva,
luzinhas no escuro,
milhares de velas
e meios sem fins!
A vida é assim:
a eira da beira,
uns tantos sem ares,
algumas besteiras
enfim!

sexta-feira, abril 11, 2008

"mas que importa um nome"




Estava a me lembrar de um poema visceral, que volta e meia eu assumo em meu corpo como condição para a vida. Esse poema tem uma voz rompante de um poeta gritante. Tem o contorno de urgência, que me remete às propriedades do meu pensar. Não sei por que hoje, lembrei-me sutilmente desse direito de existir poético e humano. Uma força formando o homem concreto, o homem que cresce junto a si mesmo e se fortalece sob o signo do amor. Assim, números e códigos diversos são mastigados, misturados à saliva do passado.Podemos imaginar a hora da digestão do mito. Engolimo-nos em grandes ou pequenas porções. A ausência sobre a presença em perpétuo movimento: "O homem não está na cidade como uma árvore está num livro
quando um vento ali a folheia."
Este poeta, não ouso grafar o seu nome; "mas que importa um nome"?

domingo, abril 06, 2008

cruzando pontes desconhecidas

é hora de atravessar, cruzar o rio,
este abismo sobre meus pés.
mas é preciso imaginar a ponte
e acreditar que ela existe
de se perceber!
é hora de conhecer o outro lado,
tocar o que se mirava ao longe.
mas é preciso ocorrer o cuidado
que há entre as distâncias
de se perceber!

cruzando pontes desconhecidas
pisando pedras nunca pisadas
respirando novas imprecisas
formas de amar variáveis!

quarta-feira, abril 02, 2008

Um olhar completo



a Gladston Mansur

Rosas do Tempo têm cheiro de lona
imaginadas com alma,
um certo painel díptico
pertubando o céu com manchas ocasionais.

Uma Amazônia nossa, somente,
em pedaços e protegida com cuidado.
Algumas ondulações de 2005,
suaves ondulações...

Um construtivismo puro, apuro
desconstruindo muros,
uma grande tela com dois registros:
ângulos angulares agudos, movéis,
um ponto mais claro, outros iluminados
um pergaminho de luz é o circo.

A tua face sobre um azul me cala,
contrói meu tato em ouro e prata
e as linhas quânticas das vias tântricas
em tantas estruturas caminhadas.

Ciclos, círculos, ciúmes ciclópicos
avermelhados de sombras:
cores para louvar as transparências!
remendos e costuras para romper grades!

Uma explosão de sanidades do nexo,
entre o leve e o complexo
um relevo circunflexo
e no centro da sala soa uma flauta:
a falta da presença profana olhares
entre duas capelas pálidas
aos nossos pés!



Ricardo Aquino

terça-feira, abril 01, 2008

três poemas para Gladston Mansur

O túnel e o Tempo



Faz túneis que há tempo
em meus girais de texturas,
com negras espessuras
e com coloridos movimentos.

A ti, faz silenciosamentos:
licenças, que por ventura,
ondulam em minha medula
ciclos acrílicos em rondamentos.

... e tão só, só por um momento
sinto o amarelo divino das conjunturas!




A dança


Ele de vermelho,
eles de amarelo,
outros em tolices de espera:
vergonhas neutras entremeiam a dança.

Uma canção azul inunda as margens!





Peça de abertura


Um inteiro,
uma alma inclinada,
em madeira:
parece ter pretenção de recheio!



outono de 2008 - sobre a exposição Construtivismo Gestual
ricardo aquino