segunda-feira, março 31, 2008

pensamentivo.

Como se minha língua fosse a língua do universo
eu a ofereço à cura de quaisquer dos males existentes!
Como se sem mim eu fosse ausente do verso
e não podesse oferecer descanso aos meus descendentes!
Como se eu desejasse uma palavra de ruínas
que atravessasse os séculos para ser reconstruída.
Como se uma palavra erguesse todos os reinos
e abominasse todas as crueldades das doutrinas!
Como se em minhas mãos corresse a energia
que dissolve os signos e seus velhos monumentos.
Como se do tato de suas errantes entrelinhas
fluisse algumas cronologias, algum tempo.
E como se a linguagem ambígua à míngua da língua
fosse silêncio entre os lábios e fosse sussurros noturnos!
E como se diante do futuro tudo o que finda
existisse de se esquecer e fosse um tanto mais profundo!

quinta-feira, março 27, 2008

releituras dos meus eus textuais

tenho a singela impressão
que escrevo para teus olhares:
mesmo as vírgulas,
mesmo os pontos.

Há tempos não nos vemos de tocar!

Fiz erros mensuráveis,
trabalhei incertezas variáveis,
construi castelos duros e sombrios:
esses de Sir. Doyle!

Sonhei tanto que a realidade se fez cruel,
mudou de órbida, refez singularidades.
Continuo torto à medida do possível,
mas não sou, nem nunca fui um poeta:
escrevo em versos, poeticamente licenciado!
Há duas coisas que nunca serão magoadas:
quais?
Sabes do que digo?

(...)

Nessa manhã o céu desfez-se de certas distrações tardias!

domingo, março 23, 2008

Um solinho...

Os cometas passam, os rastros não.
E tudo faz parte do núcleo e da poeira,
exceto as goteiras das infiltrações.
Eu passo só de brincadeira,
não deixo rastros,
pois os rastros são...
e eu...
eu solo a solidão!

segunda-feira, março 17, 2008

"Nem sempre se pode ser Deus..."

"Por isso estou gritando."
Por isso venho e mostro a minha face,
por isso não desejo máscara ou disfarce,
por isso não quero mais o palco:
quero o grito, quero o embate!
Não quero perpetuar o layout da desonra,
nem quero ser um angustiado da busca.
Quero a incerteza da busca,
quero a beleza da busca,
quero a leveza da busca,
quero a busca em mim...
por que "nem sempre se pode ser Deus!"

sexta-feira, março 14, 2008

Para Balzac

Este soneto foi composto pelo poeta Sebastião Noronha. Faz parte do livro Perfis, lançado em Belo Horizonte em 1970. Aqui, uma justa homenagem aos dois!


BALZAC (HONORÉ DE)


Dôres e anseios do mundo,
soube-os contar, foi além...
Não seria tão profundo,
não os sentisse também.

Onde houve amor, foi presente.
Desde o palácio à choupana.
Ninguém mais profundamente
sentiu a comédia humana.

Enlêvo e aflições, a vida:
tanta angústia dolorida,
que nem na ilusão se acalma.

Para o exaltar de uma vez,
basta dizer que êle fêz
Victor Hugo crer numa alma.



Sebastião Noronha

quinta-feira, março 13, 2008

Chuvas...

De formiga em formiga
a parede
da cozinha
ganha um aviso
silencioso:
vai chover
um dia
como esse!

quarta-feira, março 05, 2008

menina que en-canta





e essa voz, veio d'onde?
quis me dizer de um tempo,
em que o tempo teimava longe...
e o capim? acaba me aceitando o sono
mas acabando resiste na voz da menina que en-canta:
eu sei, ela sabe d'onde vem a voz
com todo esse movimento
de noites e dias!


para Roberta Campos

E assim tudo começou...


. "Amores Expressos" (Wong Kar-wai, 1994)




Como tudo começou, exatamente, não sei.
Acho que foi pelo olhar, mas
deve ter sido por outros motivos.
Deve ter sido pelo cuidado e pelo carinho,
deve ter sido pelo tamanho do coração,
deve ser as causalidades, o tom de voz,
o jeito cansado de respirar, o sorriso triste.
Deve ter o começo desejado o fim,
deve ter sido o festim, o falar de braços,
os gestos coordenados pela distância,
a maturidade infantil de um sonho.
Deve ter sido o dever e o devir,
algo que não se deve iludir,
uma intenção desses etéreos sopros.
Deve ter sido um e outro no mesmo estado, na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma rua, no mesmo endereço, no mesmo apartamento, no mesmo quarto, no mesmo beijo, naquela noite ou dia ou madrugada mesma.
Deve ter sido por isso ou por nada disso,
deve ter sido assim ou nem assim deve ter...
E assim tudo começou...

terça-feira, março 04, 2008

Roda do Arco-Íris





Na roda do tempo o amor dançou:
meus amigos se casaram!
Ela vai ter um menino, os dias se chegam,
ele continua tocando muito e lecionando.
Os dois me enchem de orgulho!

Na roda do tempo o amor girou:
ainda penso em me casar!
E imagino, chegando antes do anoitecer
correndo, ela me esperando com as taças já cheias,
eu colocando a nossa música mais verdadeira.
Na varanda nos vemos sobre o pôr-do-sol!

Na roda do tempo o amor inventou:
notícias de momentos mágicos!
Último ano desse espetáculo, cá se vai
o PERIFÉRICO se anular em si, em lá,
em sóis de encenar um ardor.
Despedidas de um tempo de cores a girar!

segunda-feira, março 03, 2008

Petiscos

Tudo ao molho verde,
líquidos de oliva,
grãos do oriente moídos.
Um pouco de ácido,
sal e rendas amargas.
Queijo de cinta,
alguma erva!