domingo, dezembro 28, 2008

para Ana Vianna





Ana vai partir
aonde não há sul
é norte em abril
e no verão também tem sol.
Ana vai ao inverno branco
de mãos frias e sonhos quentes,
Ana vai crescer distante
vai ser mulher ausente,
vai ser menina ausente,
vai ser lembrança que a gente
aperta de lembrar,
sorrindo,
pois Ana,
Ana vai imaginar no horizonte
futuros encontros
de antigamente!

sexta-feira, dezembro 26, 2008

não se apoquente

Nada é o bastante para quem quer ser o maior,
para quem nasceu com o dedo no gatilho do desejo,
para quem foi o peito, a boca, para quem foi o beijo,
e foi a língua na ponta da resposta do pior.

Nunca tomba à onda a tona, nem repica o anzol,
para quem cresceu de corpo com a veia à mostra,
para quem chiou ceia e foi na força à desforra,
tentando cegamente um ataque contra o sol.

Não se apoquente,
Qualquer coisa a gente mente!
Não se apoquente.
Joga a semente no chão!


Jamais a presa se prende e se entrega ao destino
sem que a deixe resistir, sem a defesa na vida,
sem a peleja que a natureza desfaz escondida
nas virações e frações dos ardentes líquidos tintos.

retrospecto - 2 0 0 e no fim o infinito!

(abril a julho)



A arte, é culpa da arte! Ou da desarte humana! Eu sei, fiz uma mística de valores, apaguei certos relevos, desfiz da bagaceira, movi o pó que em meu corpo salpicara. Por pouco tempo, mas o suficiente para refazer o olhar sobre a seaara. Foi um tempo de opressão interna e impressão externa. Foi um tempo em que a dor não era mais dor e passou a ser saudade, passou a ser bem querência, passou a ser entendimento, passou a ser humano e errado e belo. Foi um tempo em que perdido e sujo e faminto, tive abrigo, tive água, tive carne, tive um sonho de voltar. Era tempo de mudança!

quarta-feira, dezembro 17, 2008

em memória






De um disco antigo
retiro um dia antigo
na voz do tempo.



A luz do sol
deixa um feixe
colorido na parede.



De olhos negros
eu tenho o céu distante
ao meu cuidado.



Não será noite
enquanto a poeira não
apagar suas marcas.



Sua violência de concreto
rachado e vazões subterrâneas
ameaça silenciosamente.



A voz do tempo soa
como uma tempestade
que trouxe a bonança.



Tudo que era meu de nome
não deixou forma alguma,
nem palavra.



Sem amarras pus longe
um sentimento imenso
que é como um disco antigo.



Um disco antigo de lembranças
tão antigas como as noites,
como os dias!

terça-feira, dezembro 16, 2008

retrospecto - 2 0 0 e no fim o infinito!

(de janeiro a março)





- "O ano não começou!" Quer dizer... não quero dizer que o ano não havia começado. Eu sei que ele havia começado, as pessoas se vestiam de branco e festejavam. É certo que nessa festa de paz, amor e comunhão universal alguns seres foram brutalmente assassinados, mas outros tantos seres festejavam. Chegara o anúncio do novo ano novo, bissexto, 2 0 0 e no fim o infinto e tudo era triste, tudo era espera e palavras e solidão e vazio. Fez sentido, faço de conta que fez sentido. Envelheci o bastante para não me importar mais com o tempo. O que importava não importava. Sobre o meu signo ainda, os olhos, eram ardentes os sopros queimavam distâncias. Compreendi. Era um dia de partida... o ano havia começado e não começava nada bem...

- Não estive por aqui esses dias de pouco. O palco ficou vazio e deitei em seu vão e chorei o abandono daqueles, que num dia de chuva, ficaram ausentes. Sozinho. Sozinho como sempre. Um novo passo, dois braços em movimento, mãos e dedos, peito aberto, olhos atentos: caminho, que eu o faça(gritei do vento mais alto)!

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Primaveril

Não quero que sejas a flor
que nessa manhã
desponta dos teus olhos
às tuas mãos
de terra e de orvalho.


Quero que sejas a própria manhã,
retocando todas as cores,
resplandecendo as florações!

segunda-feira, dezembro 08, 2008

fim de temporada

.




Despeço-me do peso de um bissexto,
deixo ao lado do palco um vão de vento,
dois olhares presos, sim e não deixo encostado no encontro do horizonte com o inesperado.
Abandono lá de mim essa história
melhor silenciada e límpida,
que reste apenas cada toque febril,
cada movimento tenso, cada sombra trêmula e viva.
Adeus aos teus quartos dos fundos e à tuas passagens insanas, ao teu relevo expositivo e à tua sala aberta de lugares estendidos.
Adeus ao teu teto e às tuas luzes e ao teu ressoar de sopro nú.
Adeus Casa,
que já não sou digno de confessar-me em ti.
Piso em teu palco pela vez tardia.
Adeus!

sexta-feira, novembro 21, 2008

"Enquanto olharmos para o outro com olhos incrédulos, preconceituosos e cí­nicos, mais estaremos à beira do abismo."

a posse

Possuir-se em tempo de perda
é negar-se ao tempo da posse.
Nada ter,
nada reter,
nada deter:
ser somente ser.
A posse melhor seria
a posse da humana alegria,
da compaixão, do amor
e do respeito ao próximo.
Somos responsáveis
por uma sociedade menos violenta
que acredite no cuidado,
na preservação de valores essenciais
ao convívio social
e na verdade, no caminho e na vida!
Os homens que possuem o mundo são os mesmo que abdicaram da presença de Deus!

(...)


"O mundo é um lugar bom, e vale a pena lutar por ele."

Ernest Hemingway

quarta-feira, novembro 19, 2008

desconfie

Pedras reluzentes,
dias calmos,
conselhos, quaisquer conselhos,
orações rápidas,
olhar fuginte,
arrependimento sem morte,
palavras contida,
dinheiro sobrando,
amor que cobra amor,
amor que não cobra amor,
toque que não deseja,
carinho como pagamento,
dias escuros,
o sol das 15 horas,
romance de fevereiro,
amigo que entende tudo,
amigo que não entende nada,
argumentos nervosos,
religiões,
copos trincados,
atendimento terceirizado,
filas rápidas,
educação,
saúde pública,
saneamento de discurso
curso interrompido,
fluxo crescente,
fobismo,
fordismo,
modismo,
achismo.
Desconfie disso:
e .

terça-feira, novembro 18, 2008

1° movimento







"A literatura (...) é a linguagem distanciando-se o mais possível de si mesma; e se este colocar-se 'fora de si mesma' põe em evidência seu próprio ser, esta claridade repentina revela uma distância mais do que um sinal, uma dispersão mais do que um retorno dos signos sobre si mesmos."

(FOUCAULT. O pensamento do exterior, p.14)

segunda-feira, novembro 17, 2008

obs.

Não faça mais isto:
cobrir com palavras
cobranças sem tino.
Na hora que pesa,
aguentas
de qualquer forma
de algum jeito.
Não faça mais tipo,
não faça de conta:
a imaginação expande
paredes rasas, amarras tênues,
forças delgadas,
que não permanecem tatuadas
na pele da alma.
Não faça com teu pensamento
monumentos de qualquer praça:
rebeldia
que te persegue, não te deixa
à vingança antiga.
A poesia, não podes tocá-la:
é um estranhamento
aéreo do nada!

sábado, novembro 15, 2008

Dirias que sim
de uma serra de ventos que levam
cabelos
e a fotografia
de braços abertos
como a figura
que ao solo
voa
iluminada pelas luzes
da CEMIG!

sexta-feira, novembro 14, 2008

diluições

Onde mão para tanto corpo,
A tanta perna quanto passo
Quanto sonho para pouco tempo
No entanto a que tanto abstrato
Ante a voz por que o silêncio
Canto farto e outrora tamanho
Um gesto noutro ser anulado
Acusa ao próximo talvez esse ato
Um aparato solto e côncavo
Entretanto à mão do inexato
Soa o corpo num espaço
Anterior ao julgo do movimento
E depois somente o vácuo!

segunda-feira, novembro 10, 2008

qUiRoMaNcIa

Meu coração é um girassol,
gira,gira leve gira:
músculo que brilha.

Meu corpo é um guarda-sol,
agüenta raio quente,
faz da luz a sombra no chão.

Se é noite sigo o coração,
corpo sem destino,
astro genuíno.

Enquanto paro a pensar,
venta nuvem feia
e cai a chuva do céu.

Meus olhos como o pôr-do-sol
fecham-se serenos
iluminam Vênus.

Invento uma anti-translação,
flor de metileno –
o universo
está na palma da mão!



do livro SOBRE TUAS SOMBRAS

Somente para sempre

Somente as considerações do coração são para sempre
enquanto a vida é vida, enquanto sinto.
Somente a amizade se preserva fielmente
ao sentimento que refaz sentidos.

Mesmo sem o encontro, tudo que se vive macula,
uma lembrança na hora exata do tempo,
um abraço que se passa numa tela como um curta,
como um conto, como um fragmento.

Somente as considerações do coração são amores certos
entretanto a paixão nos alimenta.
Não está no prolongamento a essência do eterno,
nem no anonimato a razão do poeta!

domingo, novembro 09, 2008

e boa noite!

em casa
com meus pensamentos desalinhados
sozinho
entre papéis esparramados
na cama
deito a cabeça sobre um poema de amor
do som
soa uma canção do passado
dos olhos
rola uma lágrima de sono
do quarto
teimo esse poema calado!

... e boa noite!

quarta-feira, novembro 05, 2008

e se eles sabem...

um dia a palavra formou-se sonora num sentimento tão grande e puro e simples que não se traduziu, não simbolizou como era crença. Amor eu disse e não era: era muito mais que amor, era o grito mais forte, incabível de compreendê-lo. ainda hoje todas as pedras se projetam pelo caminho. e se os passos não se percebem, como fazer deles olhares lançados às pegadas? melhor deixar à míngua e se eles sabem, deixá-los tornar o sentimento maior até se formar em palavra sonora que faça sorrir ou chorar, simplesmente!

sexta-feira, outubro 31, 2008

um antes

.

Faz horas que observo o céu da noite
e sou um antes de ser
com desejos que fibrilam nos dedos
de mãos espalmadas e amores antigos.
Adormeço como uma distância de estações
e com certa profundidade marítima
minha velocidade precisa ventos fortes que avançam pela madrugada.
Enterneço com teu vulto adormecido:
cada planície e cada depressão e cada elevação de que dispões.
Persisto o passo à tua respiração aberta.
Que sonhas, eu me certifico
e amparo todas as minhas texturas
em teu sono para amanhecermos
como uma só concha!

quarta-feira, outubro 29, 2008

trechos antigos

" ... e amiúde me toca uma lembrança,
sem que me avise tuas palavras me envolvem.
Aquele teu último poema para mim
que me confessas tudo o que eras na verdade:
a fragilidade da vida se erguendo da queda!
(...)
...e há a queda maior entre meus dedos,
o meu olhar lançado ao chão, teus olhos
que nunca me olharam com presença,
sempre em outro canto, em outro corpo,
em outra condição.
Cai em teu passado e em meu passado cai
entre dias e dias de pedaços de noites,
entre uma e outra lágrima,
apagando as velas,
molhando grafias,
tornando saudosa minha festa
de mil cores desbotadas.
(...)
Assim dobramos ano após ano:
sem amor que seja, sem cuidado humano,
sem natureza!
Assim fui desprendido de meu passo,
como uma sombra rôta e pouco retinta,
meio desfocada do caminho,
no melhor da própria cena
e entre alguns poemas."

terça-feira, outubro 28, 2008

póstumo

Eu sempre soube:
o lance é a morte!
Que não me meta a vida nesse dito.
A força de um sertanejo,
que o sertanejo é antes de tudo um forte,
está no suporte da certeza de morte torta,
seca de secura exposta,
pálida imagem de olhos cerrados.
Grita e a morte é um estado poético conforto:
melhor poeta, que seja morto!

segunda-feira, outubro 20, 2008

aos poetas do mundo!

Versos, além dos versos...
metáforas, além das metáforas...
palavras, além da palavras...
sonhos, além dos sonhos...
ah, os poetas!




pelo dia do poeta, este celebrado ser póstumo: que morre em cada poema um pouco e que vive as inquietações humanas ao extremo. A eles o meu eterno respeito, admiração e cuidado!

domingo, outubro 19, 2008

meu nome é MULHER

p. prearo



a Barbara Ramos


Meu nome é Mulher, sem status de deusa,
distante, anos luz, do produto que me querem!
Meu nome é Mulher e danço com universo:
que para tantos é antimúsica!
Nada podem contra meu olhar: eu gero!
Do meu corpo nascem os sonhos!
Os filhos que me tomam as vestes,
que me desnaturalizam em imagens poluídas,
romperam de minhas entranhas mais límpidas!

Meu nome é Mulher, mas bem poderia ser Homem
que todos são de mim cria e imaginários!
Na busca de ser o que eu não entendo
tentei ser criadora e criatura, tentei ser fantasia,
tentei ser uma modelo da hipocrisia,
mas meu nome é mulher
e se inscreve com grafias absurdas.

Meu nome é Mulher, meu nome é Mãe,
meu nome qualquer é meu nome Minério:
tenho minha essência de cores,
todas as formas se projetam dos meus olhos,
todos os dias nascem da minha alma
e resistem ao canto da minha noite.

Meu nome é Mulher! Meu corpo é sagrado
com suas dobras e rugas e excessos e curvas
nunca acentuadas pela fragilidade da moda.
Meu nome é Mulher!
Meus pés não conhecem as fronteiras,
não conhecem as nações, não conhecem esses hinos.
A minha estrada segue de mim para o horizonte,
meu tempo não admite ausência.
Meu nome não é aparência.

Meu nome é mulher!
Mas podem chamar-me de Ventre!
Mas podem adorar-me Vida!

sexta-feira, outubro 17, 2008

adianta?

(...)


Adianta a citação sem contexto e sem nexo,
escrever preenchimentos de anteontem?
Adianta o protesto sem pretexto,
gritar argumentos amarelos e radicados?



(...)

quinta-feira, outubro 16, 2008

la Grenouillière


Renoir, La Grenouillière


Foi lá,
foi lá que as sombras se perderam
nas ondulações do Sena.
Foi lá que pincelaste um poema
de silêncios e paragens.
Foi lá que flutuaste em pequenas barcas
de remos e rupturas d'água.
Foi lá que as tuas senhoras de claros tons
e rosas de amanhecer e de alvo nublar
sobre a ilha manchadas com suave movimento,
refletinham no espelho do olhar.
Foi lá que ouviste Manet te contar...?
Se foi, guardas com teu zelo de espectro
cada palavra possuída além da tela!

quarta-feira, outubro 15, 2008

Figura-Fundo

Via o desejo, antes, e compreendia que eu
queria, mas eu... que era só um desejo
mais e mais até morrer, querer.
Com exatidão, supunha mirar: meu coração
ao horizonte, desvairado, entregue...

Tive, tempo para transferir certas linguagens,
ter, na plenitude das horas, contemporaneidade
ora regredindo, passados, por momentos
à vez e na tora!

Ingenuidade, ganhei corpo, cresci na jaula e
deixei-me, só percebia, de compreender – e tudo
como, modificara, se fosse um momentâneo
ao arrepio de tantas explicações...
Propus-me, ganhar em cima, em baixo, dos lados,
pelas beiradas comer insatisfeito, sedento,
roente doente :alta nutrição de quinquilharias,
transbordante inquietação nas águas cranianas,
meus coágulos do consumismo:.

Não vejo mais o desejo, não compreendo o eu,
sequer suponho o meu – coração.
Não mais mirei o horizonte,
contas a pagar, me, algemam no ontem eterno,
gestos :inconstantes e insentidos: de desusos
o pensamento, comumente a verve, destrona.

Intuição: parece-me, seguro os pés distantes!
Não vejo – sinto, agora, único, em corpo meu,
de veias minhas, mentindo-me novos signos,
outras culturas detendo minhas noções,
meus sonhos, de possíveis, povoando
imagens (e agora não quero mais) de posse (possuir),
vazias, inúteis.

Vê o desejo, depois, e compreende. Ele
quer, mas ele... que é só um desejo
ademais, até não mais viver. Viver...
Em pessoa, pretendo e méto, primeira,
assumir-me contrastante e diverso...
Como em casulos, mergulhado em conchas, preso
à minha essencialíssima beleza de pensar...

Eis-me: reviro meus jeitos e mudo as dobradiças!
Pontuo: estou recriando o cenário!

luminárias

a Zander



Olhe o sol,
vaza do teu olhar,
com que luz:
luminária!

Vem de lá
como vêm as marés
chega líquida
para lavar teus pés!

Outrora, nos jornais,
o tempo meio inteiro
consentiu se acabar
em poesias de janeiro!

Olhe o céu,
deita em teu olhar
nuvens tão baixas
outras quiçá

deitam em paixões,
cheiram âmbar
e o sol virando lá
do teu olhar, luminações.





um poema antigo, um poema para o passado, um poema de como antes se escrevia, um poema de ver o mundo distante, com certas luzes!

pequeno delicado fragmento de um dialogo

(...)

- Sabe a causa disso tudo? Temores meu caro, temores! Ademais suspeito também de egoísmos e excentricidades.
- Mesmo no amor?
- Oh,oh, oh... No amor então que existem. A posse e a pose, um sem o outro jamais dará muita coisa. Primeiro a sensação de possuir, depois a imagem diante do mundo. Temores de nada ser, de nada ter, de nada crer... temores meu caro!
- A amizade é mais pura.
- A amizade é tão impura quanto a paixão! O único, talvez, possível de nobreza é a adoração: puro, límpido, constante. Os reis têm súditos, os mitos têm adoradores! Os mitos traduzem os próprios egoísmos em nossos egoísmos, qual Narciso! Eis a causa disso! Ademais, tenho fracassos: sou como eles e vocês, meu caro! Um temeroso entre outros!

(...)

segunda-feira, outubro 13, 2008

pelos sentimentos!

Não te posso guardar em segredo
nem posso teus vestígios mostrar por aí.
Tuas unhas vermelhas de amoras e sangue,
teus dentes marcados na textura do ombro,
teus seios nús em meus abraços,
tua boca a minha boca amalgamada,
teu corpo envolvendo o meu corpo:
és como as tempestades do entardecer
que nunca se anunciam
e és como um tesouro antigo
que levo dentro do bolso
perto dos sentimentos!

sexta-feira, outubro 10, 2008

pequenina menina JANIS

...






pequenina menina Janis
que canta o infindo cósmico,
a voz tua, que desnuda em mim
atua, aflora entre
Hell's Angels, Cheep Thrills
e sussurra,
sonora ardentemente, um trecho de um blues.

pequenina Janis
que num canto alcança os meus cantos:
quem me dera ser
tão bom quanto foste intensa para este mundo.
teus grandes irmãos
em grandes nações
dizem teus olhos insconstantes
como vidraças protegendo os segredos
desvendados na mortalidade das noites de depois.

ah, pequenina!
um grito à presença de teu nome,
ao teu sorriso aberto de tempos de verão.
talvez dirias
que necessitas de uma canção para amar,
entre tantas canções de solidão e dor,
que necessitas de uma canção para amar,
somente uma canção, como antes
e um coração a ouvir
o teu simples complexo Kozmic Blues!

sábado, setembro 27, 2008

o entregador de flores

foto de Sandra Cruz


Ela acha que a cura está em algumas palavras travadas por educação, que há força num sorriso triste. Ela acredita que pode dar voltas e voltas e voltas e tudo ser exatamente o mesmo, como se depois de oito estações o jardim ainda conservasse aquele brilho que ainda há na memória. Ela pensa que o destino é suave como eu fui outrora suave e como ela foi outrora precisa em seu golpe de tempestade e ressaca. Ela afirma tanta força em suas ondas que pode os olhos se abrirem, pode a boca vociferar, podem os ouvidos ser dor, pode a pele arder em chamas que nada restará às suas águas.Ela roga por cada gesto de cuidado empoeirado e hoje ambíguo e abre a porta devagar para não fazer barulho. Entrego o bouquet, sorrio, peço que assine a nota, agradeço e volto ao que preciso para mover minha alma pelos caminhos da gravidade: o dia é longo, ainda tenho muitas histórias para imaginar tateadas e muitas flores para entregar.
Eu acho.

quinta-feira, setembro 25, 2008

antídoto

.


Mudo se fala
de tipos escuros
como se um nada
não fosse um tudo.
Nenhum discurso
um curso no abismo
uma muda do recurso
ambigüo como antídoto
desnudo como um afeto
reto e um tanto curvo!


.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Crer que a véspera da tragédia
indica um aviso,
um aviso qualquer, destino, premonição.
Crer que, alerta, qualquer um adormece
e quando menos se espera
faz juras.
Crer que há motivos que não se explicam,
feridas que esquecidas
não restam maculadas.
Crer que a crença é uma virtude
do egoísmo de crer no coletivo
do indivíduo.
Crer que os póstumos deslizes do ócio
são ósseos e sublimes
alicerçam!

domingo, setembro 21, 2008

Estranhos

a Moça Poeta



Se somos estranhos com olhos de ver o mesmo mundo,
com mãos de tocar os mesmos tecidos,
é por que somos humanos.
Se somos humanos com sonhos distante uns dos outros,
com um jeito tão distinto de ontem,
é por que somos presentes.
Se somos presentes com tanto resquícios que guardamos,
com tantos desejos de talvez algum dia,
é por que somos ausentes.
Se somos ausentes com ares de palavra doída,
com saudade e remorço e dias triste,
é por que somos sensíveis.
Se somos sensíveis com alma e sentidos,
com abraços apertados e sorrisos abertos,
é por que somos humanos.
E se somos humanos com erros e acertos do engano,
com medos e escuros escondidos,
é por que...
somos feitos com a textura do amor
e com amor, estranhamente, vivemos!



o alquimista

quinta-feira, setembro 18, 2008

Honório Causas

Honório Causas vacilou,
luta de classe e bebida.
Preferiu beber. A luta nada
trazia - eram escolhas perdidas!

Frutas podres na calçada
como idéias depois do carnaval,
H. C. , furto em seus olhos
com o esgoto e as valas

abertas, repletas de mandinga,
tubos de merda explícita e lodo
que Honório não crê, nem fita:
vai esquecer que tem nojo

Vai digerir como a farinha e o caldo,
repetir e sujar o seu fardo
e cheirar fumaça, matar os ratos
vacilo esse de beira de asfalto.


Honório Causas segue a onda,
a onda que já vai quebrar
levando o ponto fraco no rolo
até conseguir entornar.

Honório não quer sequer
o êxtase que a gula faz sentir,
quer seu direito pleno de beber
e as causas honóricas de partir!





11 de março

segunda-feira, setembro 15, 2008

imperalismos metafísicos da hermenêutica e os seus contrários místicos


o grito - e. munch


Tipos de propaganda afixiada num poste qualquer:
ele lia! Um tumulto em nome de algum ideal sem alma,
um anúncio de serviço terceirizado, resquício da última eleição,
propaganda esotérica, evento imperdível algum.
Periódicos num cesto no canto da sala de espera:
ela lia! Artigos de arte atacando a própria arte,
conceitos contra a imaginação, realidades de vanguarda ancestral,
resumos das telenovelas.
Correspondências diversas na caixa de correio:
todos liam! Santos ao orgulho eterno, o horóscopo de ontem,
heróis da última aquisição cosmética, novos móveis conceituais,
figurações partidárias, uma cobrança à realidade alheia,
um pretendente ao poder alheio.
E haja massa: farsas entre as letras ralas e rasas da última estação, entre os dedos articulados do último discurso, entre as descobertas raras do turvo futuro. Raro o pensamento sobre o quê imaginário... e imaginando o quase impossível aos semelhantes carpos, publicita: leiam-se!



#

domingo, setembro 14, 2008

coisas feitas incompletas

Deixam pontas
essas coisas feitas incompletas,
essas respostas nunca dadas
ao tempo da deixa.


Incomodam resquícios
de movimentos cancelados,
desses verbos silenciados
no olhar do incomodo.

domingo, setembro 07, 2008

o malabarista

Na esquina de Gonçalves Dias
uma poesia de pau e fogo.

No sinal de Bias Fortes
uma política de olhos e equilíbrios.

Um corpo franzino que brinca
com a coisa séria do sustento,
que se sustenta na arte do cruzamento.

Meus olhos param, meu corpo pára,
meu coração pára e vocifera
contra o desiquilíbrio das ruas.

Minhas moedas para o café
queimam no bolso, preciso presentiá-lo
com o pouco que detenho.

Que sirva para alimentar o corpo
desse pequeno malabarista:
um metro e trinta centímetros
de coragem e persistência.

Já não sorri, mas o seu sonho,
percebo, é maior que seu molejo,
maior que sua arte de se mover
para os mundos trancados nos autos
a caminho dos tristes erários.

Na esquina da poesia
com a arte do cuidado humano
o malabarista ganha a vida
sobre o tráfego errôneo!

sexta-feira, setembro 05, 2008

para Marina Colassanti

.





Fala com calma de palavra
Veste a túnica da semântica
Conta com alma de literatura
Aniquila a conduta da didática

Canta com a voz da litúrgia
Ouve com certa atenção cirúrgica
Encanta com ritos de fotografia
Mexe em Dumas e algumas alegorias

Tateia uma fantasia alheia
Toca com os dedos a filosofia
Amaina a manhã na sala fria
Retira-se na pressa à mineira.



.

quinta-feira, setembro 04, 2008

aos meus irmãos: humanos esses!

Profundidade:
eu quero isso em mim
quando os meus irmãos
precisarem!

Sinceridade:
eu quero esse recurso
quando os meus irmãos
duvidarem!

Amizade:
Eu quero esse amor
sempre que meus irmãos
ousarem!

reflexos de algumas reflexões

.



Seja este dominante de sua fala,
diga cuidados sobre os outros,
coisas boas, boas palavras,
palavra-coisa de nunca prometer
sem se atrever a cumprir.
Seja esse que deseja e diz:
faça com que o seu corpo diga,
faça com que a sua alma diga: diga
ou grite o dito!
Seja a busca do infinito,
deixe a mente, de repente, buscar longe
outro tão rente, não atente
para a maldade, para adjacentes
que não se conservam alegres de estúpida
alegria e beleza,
busque, pense, conserve,
tenha cuidado com seu ego.



.

segunda-feira, setembro 01, 2008

figura-fundo


stenographic figure (1942) - J. Pollock



sem reparar os reparos do seu olhar,
algumas mãos,
sem alguns toques,
nenhum retoque, retrato abstrato,
tudo é o seu nada
tão internamente precipitado,
que anulado o ato selvagem do criador angustiado
sobre o objeto criado,
o que resta não tem alma,
não tem corpo,
não tem rastro.
a angústia de um traço
imperfeito em seu espaço:
quão preciso seria um sol,
um mar,
escuros propícios e imediatos,
algumas ranhuras de alvo teor
e um tom de sangue entrecortado pelos carvões dos sonhos.
sem reparar os seus dedos a aparar
porções sem proporções desiguais desaguando
num trago amargo de bar
e noutras diluídas figurações,
nem pouco mar, um pouco vento
e tanto espanto
calando-se no canto
acinzentado
e .

sexta-feira, agosto 29, 2008

Colocações sem guia

por que meus passos maculam as pedras
e três vezes o silêncio se fez poeira,
por que na última noite não veio o sonho
e se calou gritos e gritos de festejo.


por que meu canto num distante arpejo
selou as trincas cristalinas da madrugada
e entre estrelas gregas esquartejadas
o mito do poema de um homem nascituro.

por que aqueles versos ditavam futuros
e aquelas mãos trêmulas passados sentiam,
por que não era possível o renascimento
enquanto só o tempo tremulava na caligrafia.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Basta

...


Não escrevo sobre guerras senhores veteranos da última batalha,
não almejo nenhuma de suas medalhas,
suas lembrança de semelhantes, mortos em nome da glória.
Não escrevo sobre os desafios de subjulgar um outro povo,
não desejo dominar o território alheio ao meu solo.
Há muito não sustento as fronteiras,
não dissemino o ódio das bandeira, mas ainda guardo as minhas reservas.
Tenho meus medos, sim!
Tenho minhas horas de dor e vazio, sim!
Quase nunca fecho os olhos em alerta!
Mas de cá não toco armas, não aponto fogo à minha raça.
Eu canto, não o egoísmo e a maldade,
mas o erro e a busca.
Talvez por isso não encontre mais o seus verbos em meus signos,
não vê mais a sua ira em minhas cores.

Cada disputa é devida à mera conduta!

Retire suas tropas, liberte seus soldados!
Do alto de suas salas,
de suas poltronas acochoadas
e condicionadores de ar,
a dor das trincheiras e os seus odores parecem um jogo!
Senhores veteranos da última batalha, sobreviventes...
basta de armas,
basta de guerras!


...

segunda-feira, agosto 25, 2008

... enfim!

.


Para aquele assunto
chato e perverso
eu tenho dois movimentos:
um contrário
outro inverso!


.

domingo, agosto 24, 2008

Estranhamente hoje

Dia estranho este hoje!
Com pausas caladas,
com palavras de guerra e desencanto.
Dia de pensar nas dobras,
nas obras feitas cá dentro,
nas esculturas, nas pinturas,
nos retoques de bustos antigos.
Dia de morrer distante de tudo
e nascer mais forte perto dos amores.
Dia estranho este hoje!
Com passados tentando presentes,
com órbitas dobrando sonhos,
com raivas e ódios e pequenas maldades.
Dia de limar esses excessos do corpo,
de retirar restos e proporções.
Dia para esquecer e lembrar e esquecer...
Nesses dias que se educa o pensamento:
se não couber, lança ao vento!

sexta-feira, agosto 22, 2008

e a culpa é sua

Tenho tido dias mágicos, quando ouço sua voz os lábios abrem. Tenho tido mais coragem e mais trato com o mundo ao meu redor, ao meu espaço. Tenho tido a maldade necessária para fazer o bem aos desavisados, tenho feito planos para os pés e escrito com a cabeça nas nuvens. Tenho imaginado dias melhores,tenho feito melhores dias em mim. Tenho pensado em você horas a fio,tenho em desafio me desafiado a ir além. Tenho configurado gráficos possíveis,tenho feito o impossível sem saber. Tenho conquistado o respeito da poesia pois que tenho dado a ela a verdade. Tenho decerto tentado o certo e ao erro, tenho traçado movimentos circunflexos.

quarta-feira, agosto 20, 2008

à moda de C.D.A.

.


Bom dia!Bom dia! Ele dizia
aos quatro ventos da esquina,
dos cruzamentos das vias,
às arvores agitando os galhos,
ao balé dos pássaros
e ao colorido que o sol imprime nos muros!
Bom dia! Ele dizia
ao homem calado,
à mulher que discursa um resumo
da telenovela, do jogo, do filme...
às crianças indo para escola,
aos que nascituros homens alados.
Bom dia!
Mas se não for um dia bom
ele dirá: bom dia!
E a poesia se fará
como há muito se fez o dia!
Bom dia!Ele sorri,
mas o sorriso é antes distante,
é um pensamento distante,
é um mar de lembranças de amar recente,
é um abraço desconcertante e ardente,
é um toque, quiçá um retoque fremente
no corpo febril e temente,
um ar de quem vai consentir sonhar
conchas de papel, cristais de amanhecer.
Ele quer dizer: Bom dia!
Somente para você!



.

segunda-feira, agosto 18, 2008

.#.

.

Meus irmãos estão lá fora
como a água e a terra e o fogo das guerras,
todos estão em seus movimentos e em suas inquietações.
Aqueles que não se debruçam sobre segredos,
não têm mortes,
não têm vidas,
são previsões partidas, pedaços de um espelho
que não reflete nada além da imagem
que se quer refletir.
É um fio, um fio espesso, um fio tenso
tirado do novelo e enrolado no dedo,
contudo e com medo. Meus irmãos!
Eles sentem medo sim,
sentem o frio das madrugadas frias,
o calor da ondas febris,
a dor interminável das separações!

Meus irmãos estão aqui dentro também,
como o sangue no pulso, como os impulsos cardíacos do curso,
estão entre raivosos discursos,
declarações de amor e amizade
(amizade nunca se declara!),
sins e nãos entrecortados de metáforas.
Eles estão em frases curtas e disputas de religião(?),
em instantes de descrença e de satisfação,
em discussões políticas e concordâncias ideológicas,
estão entre o silêncio e o sermão.
Não sabem, nunca saberão, o quanto nos parecemos
com suave distinção,
a quanto vale os nossos encontros
em perfeita solidão,
por que ainda somos irmãos!


.

quinta-feira, agosto 14, 2008

"Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para a fogueira." l. tolstói

nós

foto: www.michellemartins.files.wordpress.com


Somos duas cordas, dois cordões, duas linhas
que se emaranham, que se amalgamam, que se envolvem
como se fossem, como se buscassem, como se quisessem
ser do mesmo modo, ser do mesmo feitio, ser do mesmo o outro
e somos seres e somos coisas e somos jeitos
como são as correntes, os cabos, os fios
quando se unem, se juntam, se interam
em nós, como nós somos, nós!

quinta-feira, agosto 07, 2008

a pessoa no presente

- Sou eu!

Digo que não é o caso de uma absoluta desordem interna.
- Sou eu!

Ao contrário: roupas, pápeis distintos, cartões de visitas, livros diversos, fitas, lembranças amarelas, velhos convites, presentes pretéritos, novas fontes, catálogos, encomendas, fotografias, folders,poemas avulsos, maço de cartas, canetas, borrachas, réguas, lápis, perfumes, cosméticos, remédios nunca usados... tudo está alinhado!
- Sou eu!

Tempo para os amigos, tempo para os amores, tempo para as leituras, tempo para a criação, tempo para os documentários, tempo para um bom cinema, tempo para o Luck, tempo para meus pais, tempo para meu tempo, tempo...
- Sou eu!

Sinto que hei de me desfazer em mim sem trancas, sem amarras, sem elos, sem cordas a equilibrar, sem cálculos, sem métrica...
Agora, mais do que nunca: sou eu!

quarta-feira, agosto 06, 2008

as luminárias e suas luminações


foto do site www.33d.com.br




Ah! Venham-me as luzes
pois mesmo a noite nenhum escuro
poderá!

Ah! Venham-me as estrelas
pois pela noite qualquer distante
reinará!

Ah! Venham-me as luminárias
pois mesmo a noite neste quarto
tombará!

Ah! Venham-me as velas
pois pela noite nenhum vento
precipitará!

Ah! venham-me as idéias
pois a mesma réplica luz
será!

Ah! Venha-me a manha
pois pelas manhãs iluminações
transcenderá!

terça-feira, agosto 05, 2008

São as ruas de João Pessoa



O sol nasce primeiro em seus dias.
Estas pedras iluminadas são as ruas de João Pessoa.
Estas praças que verdejam cada olhar que passa,
também respiram em meus pulmões.
E nas areias claras do Bessa,
e nas ressacas do Tambaú,
e na orientalidade do Bessa,
e na voluptosa curva do Cabo Branco,
ou no Sol deixando bronze a pele:
tudo aqui é ternura!
Se fala um bom português, canta
um sonho mais forte e se a noite vem,
um sopro de um sax conduz o sol ao descanso
tingindo as águas com seu crepúsculo.
Ah, João Pessoa! Um dia dormirei ao seu luar:
ao seu verão e ao seu inverno.
Quem sabe um dia eu seja seu morador mirante,
entre suas matas e suas ruas!
Quem saberá!

segunda-feira, agosto 04, 2008

um poema de janeiro de 2007

Um ano depois de você
alguma coisa medrou.
Certas questões foram comprometidas,
outras estão melhor entendidas.
Tenho aprendido a amar com alma e corpo:
equilibrando essas diferenças!
Passei um ano sem escrever qualquer poema.
Registrei alguns começos, outros
nem sei quantos foram silenciosamente
adormecidos.
Nesse momento, luto contra o pó depois do passo.
Assim, tenho me tornado uma pessoa melhor
(o mundo que resulte dela)
Tentarei não falar certas coisas,
principalmente sobre mim. Nada
de segredos! Somente posições caladas.
E para que nunca saibam,
você existe!

sexta-feira, agosto 01, 2008

.determinações imprecisas.

Uma régua, feita a medir,
uma regra, posta a quebrar.

Um sintoma, sinto que perdi,
um sistema, sempre a declinar.

Um traço, forma a desnudar,
um ponto, finda a recobrir.

Uma fenda, rocha a penar,
uma brecha, rio a fluir.

quarta-feira, julho 30, 2008

depois de tua ligação...

Ontem eu quis
dormir contigo contido
em estado de concha
no mar dos teus braços!

segunda-feira, julho 28, 2008

Hoje: cores!


O dia tem cores de hoje:
azul ao céu e à minha camisa,
amarelo aos raios solares e aos meus sorrisos,
verde às praças do caminho e à árvore das minhas mãos,
laranja àquela flor despida e aos teus lábios em tom,
rosa à graça desse jardim e ao meu jardim,
preto aos meus medos, à desgraça do asfalto, à noite,
cinza à ganância e aos seus poluentes,
lilás ao meu olhar e ao teu olhar,
branco ao dia de hoje: cores!

! suspeita da poesia !

Eu não sei quantas vezes lhe fiz sorrir de verdade
e por isso não imagino quantas vezes lhe fiz chorar.
Eu não sei se alguma vez você desejou me encontrar,
nem se, realmente, eu estive em seus lugares.

Eu não sei se você teve algum sentimento por mim
e por isso não posso afirmar se nos encontramos.
Mas eu sei que um dia eu lhe encontrei assim
entre meus mais presentes achados e enganos.

Eu não sei quando isso aconteceu de acontecer.
Sei que por algum motivo eu me entreguei
àquele desejo de se entregar e de pertencer
à incompreensível suspeita que nunca sei.

sexta-feira, julho 25, 2008

"Nascer é inaugurar-se em perguntas."

a Bartolomeu Campos Queiroz


Sobre Pequenas Histórias
as mínimas frases
da imaginação,
um coração,
uma sinceridade de olhos,
uma boca em movimento,
palavras curtas,
sonoras,
outras resvalando
as pontas dos dedos!

quinta-feira, julho 24, 2008

.um olhar na noite.

Na curva da noite
esbarrei neste olhar desconhecido.
Oh deuses! Oh humanos meus cúmplices!
Entre mesas de madeira e acordes dissonantes
uma precipitação líquida turvando os passos.
Ela me conta de coisas esotéricas,
Ele me fala de figurações do dia-a-dia.
Quando se calam, se beijam!
Um outro caminho me leva
(são tantos que mesmo um romance)
um samba me leva, eu levo esse copo
da memória entre os dedos.
Um canto me leva ao canto,
eu levanto, entro, saio, volto...
A poesia me aporta um instante,
me apresenta um sorriso tão lindo,
humana como eu, que deve, entre um sonho e outro
comprometer-se com grafias da alma.
Na curva da noite, quiçá da madrugada
alguém me pergunta, estátua de pádua
parada na porta
- O que foi?
- Nada!
- Tenho em mim um estado embriagado!
- Enfim!
Proponho em mim um istmo de luxúria
nem céu, nem águas, nem pedras do meu caminho,
nem mesmo uma após outra dobra, nenhum tecido:
pois que na curva da noite
eu reconheci esse olhar!

quinta-feira, julho 17, 2008

O amor ( para o poeta que sempre me disse para amar acima de tudo! Não se esqueça, moço! )

O amor pede passagem entre as armas
e o cheiro de pólvora
como um pássaro, o amor teima um vôo
dentro da gaiola do céu.
O amor quer perdoar, quer ser amigo
quer dizer ao ódio que parta,
que deixe as portas abertas,
que desamarre os pulsos, que abrace.
O amor pretende fechar todas as feridas
e discursar sobre o presente.
O amor só pede que esqueça dele,
deixe que haja naturalmente o plano
de colorir os jardins,
pede para que esqueça do passado
e se concentre no horizonte.
O amor deixa uma última recomendação:
ame!



de minha amiga Ana Gontijo para mim!

deixando a fio

Há em mim um tecido,
um tecido fino que há algum tempo impregna os meus dias
com uma intensidade que é absurda.
Tentei arrancá-lo de mim:
não saiu nenhum pedaço.
Tentei cortá-lo em pedaços,
queimá-lo,tê-lo em cinzas,
bobagem: de nada adiantou.
Esse tecido é impermeável,
não deixa que sobre meu corpo avance
qualquer líquido futuro.
Cada vez que o tento retirar de mim,
mais me sufoca, mais me retira os movimentos.
Tenho dificuldades para escrever o mundo à minha volta,
cada volta do meu olhar se apruma em meus próprios limites
e esse tecido: deixei-me aprisionar!
A poesia é uma dor contínua:
o tecido não se apraz de minha escrita,
quer consumir tudo que eu fui e que ainda sou,
quer me levar ao limite do sofrimento,
quer me anular qualquer sentimento...
Mas eu sou neto de alfaiate:
descobri nesse tecido um fio solto
e espero que a cada dia eu consiga desfazer
as emendas, as ligaduras, os pontos.

quarta-feira, julho 16, 2008

... por que é quase lua cheia!

a Beta


Com que mãos não mais escrever
e com que boca fechar qualquer grito?
Não sei mais de ninguém!
Sei que eu nasci para o infinito!

Com que olhos não ver as luzes
e com que pulmões no reter o perfume?
Não sei mais do além!
Sei que vivi para o deslumbre!

Com que pensamento não mais viver
e com que razão desalma nua?
Não sei mais do aquém!
Sei que sonharei com a loucura!



obrigado!

segunda-feira, julho 14, 2008

Sem poesia eu me rendo!

Qualquer que seja o verso:
que seja em verso
ou prosa figurativa,
enovelada de sentidos dispersos.
Qualquer que seja a escola,
que seja tida em verso
do mais longínqüo ao mais eterno,
com as propriedades da loucura.
Qualquer que seja a estação:
sombria, iluminada, luzídia
traga o meu coração à mostra,
posto ao golpe humano.
Qualquer que seja a condição,
que traga estranheza e magia,
que seja ríspido e forte
com contrárias levezas e doçuras.
Qualquer que seja o verso
que seja poético extremamente,
que faça com o olhar um giro,
que interfira nas horas frias.
Qualquer que seja a palavra,
a alva em negra criptografia,
que seja em mim universo,
que me refaça dia a dia, poesia!

segunda-feira, julho 07, 2008

pedido antigo

- Escreve um poema para mim?

- Outro dia, quem sabe!

- Escreve vai, escreve com muitas voltas para eu me perder, escreve?!?

- Minha pequena,
acontece que eu não sei mais escrever como escrevia há pouco.
E isso eu digo para o seu conforto!

domingo, julho 06, 2008

Hoje eu quero...

Não quero te esperar com descuido, nem quero que me fales de nomes passados como quem se protege entre códigos antigos. Quero que faças de conta que tudo começou agora com os mesmos desalinhos de antes.
Não quero que desejes meu ontem tardio. Quero que diante de mim não tenhas tempos ilusórios: eu sou hoje e, embora me reconheças envelhecido, tenho motivos aos devios traçados em relevos.
Não quero que te desculpes por nada, nem que acredite que tenha comigo algum débito. O caminho segue sobre o luar: o espetáculo não pode parar!
Quero que entendas que as curvas vem e vão e dependem da velocidade da transição. Nada permanece, traços sobre a mão, unhas cortadas, fatos que não são, gestos sem razão, pulso e coração: planos vêm e vão!
Quero de teu corpo movimentos de amplitude, quero atitudes, quero proporção, quero dias e noites, quero tempo de temporais, mergulhos abissais, humanização!

quinta-feira, julho 03, 2008

mudança de plano

Eis o código:

quando a noite chegar
faremos sombras,
quando amanhecer
desenharemos sonhos!





ricardo aquino

quinta-feira, junho 26, 2008

Pegadas poéticas

Um poema em cada passo,
em cada esquina um romance,
uma obra feito uma estrada.
Uma alma desesperada, uma dobra
desnudada, uma falta de pegada,
pés,
para quais pés esse olhar desatinado
para qual trilha essa palavra
pés,
para que pés se nenhuma pedra fora pisada
para que antes se depois é nada
???
Um poema em cada passo,
em cada salto um conto
e um espanto narrado num canto.

Devias saber:
a literatura é uma pegada!


sexta-feira, junho 20, 2008

Sobre Tuas Sombras



Sobre tuas sombras avancei
teimando invandir o mundo
em cada imagem projetei
o meu desejo mais profundo
e agora movo outros poemas
no intento do futuro
construindo outro esquema
derrubando novos muros!





meu primeiro filho,
meu primeiro livro!
Obrigado Sandra, obrigado Mira!

prensamentos

No fim eu quero ter certeza
que errei,
que amei,
que sorri,
que chorei!

No fim eu quero me lembrar
que você foi o maior amor,
(os maiores nem sempre são os melhores)
mesmo que não me sirva mais,
e à noite eu pensava em você
para ter a certeza que cheguei ao fim!

Três poemas de amor, três vozes a cantar


RECONHECIMENTO DO AMOR




Amiga, como são desnorteantes
Os caminhos da amizade.
Apareceste para ser o ombro suave
Onde se reclina a inquietação do forte
(Ou que forte se pensa ingenuamente).
Trazias nos olhos pensativos
A bruma da renúncia:
Não querias a vida plena,
Tinhas o prévio desencanto das uniões para toda a vida,
Não pedias nada,
Não reclamavas teu quinhão de luz.
E deslizavas em ritmo gratuito de ciranda.

Descansei em ti meu feixe de desencontros
E de encontros funestos.
Queria talvez - sem o perceber, juro -
Sadicamente massacrar-se
Sob o ferro de culpas e vacilações e angústias que doíam
Desde a hora do nascimento,
Senão desde o instante da concepção em certo mês perdido na História,
Ou mais longe, desde aquele momento intemporal
Em que os seres são apenas hipóteses não formuladas
No caos universal

Como nos enganamos fugindo ao amor!
Como o desconhecemos, talvez com receio de enfrentar
Sua espada coruscante, seu formidável
Poder de penetrar o sangue e nele imprimir
Uma orquídea de fogo e lágrimas.

Entretanto, ele chegou de manso e me envolveu
Em doçura e celestes amavios.
Não queimava, não siderava; sorria.
Mal entendi, tonto que fui, esse sorriso.
Feri-me pelas próprias mãos, não pelo amor
Que trazias para mim e que teus dedos confirmavam
Ao se juntarem aos meus, na infantil procura do Outro,
O Outro que eu me supunha, o Outro que te imaginava,
Quando - por esperteza do amor - senti que éramos um só.

Amiga, amada, amada amiga, assim o amor
Dissolve o mesquinho desejo de existir em face do mundo
Com o olhar pervagante e larga ciência das coisas.
Já não defrontamos o mundo: nele nos diluímos,
E a pura essência em que nos transmutamos dispensa
Alegorias, circunstâncias, referências temporais,
Imaginações oníricas,
O vôo do Pássaro Azul, a aurora boreal,
As chaves de ouro dos sonetos e dos castelos medievos,
Todas as imposturas da razão e da experiência,
Para existir em si e por si,
À revelia de corpos amantes,
Pois já nem somos nós, somos o número perfeito: UM.

Levou tempo, eu sei, para que o Eu renunciasse
à vacuidade de persistir, fixo e solar,
E se confessasse jubilosamente vencido,
Até respirar o júbilo maior da integração.
Agora, amada minha para sempre,
Nem olhar temos de ver nem ouvidos de captar
A melodia, a paisagem, a transparência da vida,
Perdidos que estamos na concha ultramarina de amar.




Carlos Drummond de Andrade





De noite, amada, amarra teu coração ao meu
e que eles no sonho derrotem
as trevas como um duplo tambor
combatendo no bosque
contra o espesso muro das folhas molhadas.
Noturna travessia, brasa negra do sonho.
Interceptando o fio das uvas terrestres
com pontualidade de um trem descabelado
que sombra e pedras frias sem cessar arrastasse.
Por isso, amor, amarra-me ao movimento puro,
à tenacidade que em teu peito bate.


Com as asas de um cisne submergido,
para que as perguntas estreladas do céu
responda nosso sonho com uma só chave,
com uma só porta fechada pela sombra.


Pablo Neruda







LIRA I


Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d'expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado,

Tenho próprio casal, e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;

Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

E mais as finas lãs, de que me visto.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!



Eu vi meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os Pastores, que habitam este monte,

Respeitam o poder do meu cajado:

Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste:

Ao som dela conserto a voz celeste;

Nem canto letra, que não seja minha.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!



Irás divertir-te na floresta,

Sustentada, Marília, no meu braço;

Ali descansarei a quente sesta,

Dormindo um leve sono em teu regaço.

Enquanto a luta jogam os Pastores,

E emparelhados correm nas campinas,

Toucarei teus cabelos de boninas,

Nos troncos gravarei os teus louvores.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!




Tomás Antônio Gonzaga

quinta-feira, junho 19, 2008

metapoética

Entre algumas palavras eu sou mais solidão,
eu sou mais frio e mais distante.
Entre algumas palavras se resume o mundo
e fazemos de conta que não há mundo algum,
não há nenhuma palavra ou ruído,
tudo é escuro e poroso
e se enche de água quando há chuvas alongadas.
Mas não há salvação para esses gestos entrepostos: sabias de tudo e já não me contara!
Entre dois signos dissolvidos na ausência de sentidos,
entre duas mulharas transitivas eu sou mais vazio,
eu sou mais velho e perpetuo escrituras
à luz de velas, comuns, como as de um velório.
Não é preciso trazer coisas desconhecidas soletradas:
eu tenho minhas entradas queridas e miro
longas planícies de sentimentalidades.
Entre essas e estas e aquelas que nunca me bastam de todo
eu construo a minha defesa mas precisa,
o meu ataque mas certeiro,
a minha tática atípica:
enquanto escrevo, fico um ponto do meio!

segunda-feira, junho 16, 2008

! Imagina-ções !

Eu imagino
seus passos sem pegadas
calando no chão
uma memória
uma passagem descalça!

Eu imagino
suas ruas preferidas
iluminadas na noite
uma demora
uma paisagem desnuda!

Eu imagino
uma imaginação
de percuso
um curso
alterado pelo pulso!

quinta-feira, junho 12, 2008

! !




Silenciosamente
o amor
se espalha pelo o corpo!

quarta-feira, junho 11, 2008

... sobre esperas ...

Para esperar enquanto volta
perca a ótica da busca,
perca o tremor da descoberta
para esperar enquanto corpo
que repousa algumas frutas
ora verdes, ora desfeitas
de sabor, apodrecidas...
apodrecidas...
Quem esperar alcançará o olhar
depois do horizonte,
onde, preso, plantaria alguma sombra
que se faria no caos do tempo,
depois das chuvas, dos sóis ardentes
que o não esperam, não esperaram...
Para esperar diga que ficará
com as palavras e a solidão:
esta que virá, essas que virão!

domingo, junho 08, 2008

Bípede

a Samson Flexor



"O olhar interior é muito mais audacioso"*
e quando falo olhar
deixo de olhos, vou à filosofia dos relevos

mirantes

azul como a borda da tua irís
como as vazões de ocre
e traços negros e rachaduras
uma aquarela de dois passos
uma semelhante forma endurecida
como uma raiz

morta

tocando minha mira com minerialidade
que protege o ventre
que protege a geometria
nascitura
sensual e desmedida
na delicadeza de Flexor
na adoração ao interior de cada suspiro
com muito cuidado
e com audácia!




ricardo aquino


*Citação de Nietzsche

sexta-feira, junho 06, 2008

Eu também duvideodó!

Gostaria somente de conferir uma breve homenagem à crônica de Fernando Brant, que foi publicada no Jornal Estado de Minas, no caderno de Cultura, na quarta-feira dia 28 de maio de 2008. Tenho acompanhado os seus relatos do mundo, da vida, dos trens que o cercam e posso afirmar que essa crônica, decerto, foi muito especial. Não somente para mim, que como ele fui guiado por poemas lindíssimos do Drummond, mas para todos que puderam compartilhar dessa reflexão. O engraçado que todos que começaram sua vida literária aos passos contidos do grande poeta acabaram, de alguma maneira, escrevendo para outrens. Essa é a maior prova de que esse poeta que tinha "apenas duas mãos e o sentimento do mundo" não se adequa à imagem fria e paralítica de uma estátua de bronze, vive por aí em nós, em nossos sonhos e em nossos olhares. Mas essa homenagem não é a Carlos Drummond de Andrade, mas ao poeta e escritor e crônista e compositor Fernando Brant, àquele que é capaz de me levar longe e de me fazer imaginar sonhos antigos. É-me dado de presente toda quarta-feira uma viagem sem rumo. Obrigado meu caro Fernando!
E para voltar ao mundo dos sonhos, entre acordes de Toninho, ouço Diana enquanto escrevo!

quarta-feira, junho 04, 2008

Pretérito Perfeito

Quem poderia



Depois de tanta espera
quem poderia suportar
a palavra dita.
Depois de tanto, de tanto
esperar pela felicidade:
ela silencia
e deixa as mãos desprotegidas,
e deixa os olhos conturbados
de amor e destino.
Depois de ainda ser menino
quem me poderia segurar
o corpo frágil.
Quem poderia além da dona
do meu pulso e do meu impulso
maltratar-me a alma?
E por ser a mulher mais mulher
de uma tentativa de ser e de corromper-me...
resistir, quem poderia?
Quem poderia não se entregar
a dança do universo infinito
depois de tanta espera.

terça-feira, junho 03, 2008

Pretéritos Perfeitos

Vou começar aqui uma série confessional intitulada Pretéritos Perfeitos. Isso por que estou me sentindo lentamente indo e gradualmente me desfazendo em pequenices e em míseras utopias. Para começar, encontrei um e-mail de amor chorado, cheio de dor e lamentos. Começo por ele por que a minha visão do mundo começou a mudar a partir desse momento especial. Sabem como são os sonhos, nascem de especialidades!





"Meu amor,
esta mensagem deve ser triste por que estou triste! Ver você e não lhe ter, foi o que eu precisava para me perder e tentar me encontrar! Eu sei que eu te amo muito e que você não saiu da minha cabeça até agora. Não consigo pensar em nada que não esbarre em você! Estou tentando não conversar com as pessoas para não falar seu nome a cada frase. Fiquei muito feliz naquele dia e entendi por que: eu iria lhe encontrar! Era a coisa mais importante para mim, esperei muito pelo FIT e tal, mas não estava ali pela noite, mas por você. Não há um segundo que eu me desprenda das lembranças e não há ninguém que me faça sorrir. Está doendo muito! Eu não sei o que aconteceu, foi atropelado por um caminhão que eu não sei de onde saiu. De repente eu voava e de repente já não tinha asas, só o chão! Isso está me rasguando, consumindo meus dias e minhas noites. Só consigo ouvir duas músicas, a que você canta (mas não dá mais para ouvir na sua voz) e Trampolim do moska! Naquela noite eu fiz tudo para tentar te amar, te cutucava, encostava de bobeira, te olhava, não sei... não consegui! Tinha vontade de nunca chegar a casa da Lê!
Aqui há tanto amor, tanto!
Sabe, ter você foi mágico, cada segundo... "acordar sem vc é estar cego no amanhecer". Você se lembra da primeira música que você me mandou? Eu morro cada vez que a ouço... Estou sofrendo muito, minha branquinha. Desculpa, tinha que desabafar com você! Se você não estivesse com o seu amigo eu teria desabafado ali. Não queria acabar com a noite de ninguém, principalmente a sua, que eu amo tanto. Eu te prometo, você não vai mais me ler ou ouvir falar disso mais. Vou sofrer tudo, até o limite... mas eu vou me recuperar! Vou ainda dar orgulho aos meus... assim espero! Vou ficar mal e vou ficar bem!
Enviei para você uns poemas. Os poemas Um Pouco e Psiquê e Frenesi, são poemas mais velhos mas que me fazem lembrar de você! Os outros são feitos, como tudo que faço e escrevo, pensando em você, para você! Ah, e eu menti! Aquela letra que eu lhe escrevi no bar, no "La Grepia" foi feita ali... Desculpa ter mentido, mas eu estou com medo! Medo de viver daqui para frente com essa dor! Queria estar aí te abraçando daquele jeito que a gente fazia, sem separar, com você pisando em meus pés e dançando... O que o amor nos faz! Ah! O que o amor nos faz! O que está fazendo em mim!
Assim me despeço de você:
Eu te amo! Eu te amo! Eu te adoro! Eu te quero tanto!
Vou me lembrar de você por toda minha vida, a mulher que me teve por inteiro, sem divisas. É por isso que eu te agradeço, tudo que você me deu e até tudo que você me tomou! Até algum dia...
E não esqueça dos foguetos e fogos de artifícios!"


Que coisa hein? Isso foi há um bom tempo! Amar é muito bom e como dizia o poetinha, "quem não sofreu as dores do amor, não viveu, não amou!"

OBS: nenhuma postagem trará nomes, o que importa aqui são os textos e as passagens do passado.

segunda-feira, junho 02, 2008

.quando o desejo faz poesia.

a Nina


Todo poema nascituro esparra em teu ser.

O poema vem donde o olhar tateia.

Toda palavra tem teu cheiro e teu gosto.

A poesia quer sentir as tuas camadas.

Já o poeta pretende o teu núcleo!

quinta-feira, maio 22, 2008

Mudanças...

Estou de mudanças:
mudanças de espaços,
mudanças de passos,
mudanças de ângulos,
mudanças de planos!

estou me mandando de antigas ruas:
novo endereço,
novo número de contato,
novo e-mail,
novos poemas, outra sintaxe.

Estou revelando giros imperfeitos:
sabendo dos dias,
sabendo das horas,
sabendo do tempo,
sabendo que antes demora!

Mudando as mudanças de rumo!

segunda-feira, maio 12, 2008

Quando você foi com a noite

para você


Quando a noite se foi
ficou o teu abraço,
ficou o teu traço
encostado em meu peito.

Quando o teu olhar se foi
e as tuas mãos soltaram as minhas mãos
perdi a minha certeza mais secreta
de ser além de estar
e restou em mim
a ausência da tua ausência possível.

Foi exato o instante
em que eu, entrelaçado em tua noite,
mirei a tua partida tida lua
e me perdi
em fases astrológicas de eternidades
e passagens bêbadas de luzes e sombras!




algumas pessoas nos levam muito. eu que sempre fui levado e quase nunca levei alguma coisa comigo vou me sentindo leve, cada vez mais leve. deve ser conseqüência dos seguidos furtos aos meus pesares. Acabo de descobrir uma coisa: alguém leva do outro aquilo que ao outro é descuido e passado!

.dever.

Devia permanecer respirando em tua nuca
e nunca retirar
meu corpo do teu corpo.

Devia, ainda, percorrer as tuas vertebras,
morder as tuas costas
e em teu seio, devia, adormecer.

Devia suspirar instintos em teus ouvidos,
em teu umbigo
deixar minha saliva.

Devia, em tua curva mais ousada,
abandonar a razão
da minha existência, a minha história...

Devia, em ti, ser demora!

quarta-feira, maio 07, 2008

Para Bárbara

Menina, como és minha amiga
deixo teu presente exposto à revelia
para que nem todos sintam muito,
que tanto menos somos nós em poesia!
Feliz Aniversário!
Para você, contentamentos e Vinicius de Moraes confessando meu mal:

DIALÉTICA


É claro que a vida é boa
E a alegria, a única indizível emoção
É claro que te acho linda
E em ti bendigo o amor das coisas simples
É claro que te amo
E tenho tudo para ser feliz

Mas acontece que eu sou triste...



Vinicius de Moraes

terça-feira, maio 06, 2008

.desfolhagens.



Não... as folhas caem naturalmente
nas águas do rio,
navegam.
Enquanto as pedras fazem pose
de aranha, de objeto
no curso do discurso!

Não... as folhas, marginais que são,
no tempo, não
pedem explicação.
Quando fólha a correnteza
dos cuspis espumantes
nunca tem certeza!

Não... as folhas tem outono
para se lançarem
secas.
Enquanto quedas, desníveis
espraiem-se entre as metas:
natureza?

a sua poesia é sonho de recobrir vendaval

XXXVII
a Monica de Aquino





Não há coincidência no templo do tempo!

Nem há o esoterismo dos jornais.

Mas provoca-me...

deixa-me desequilibrado

o teu nome.

Não pode ser somente

por causa do meu nome,

nem por que, à vez, brincamos com as palavras.

Não pode ser somente

porque li você

e temi - conhecer seu sopro...


Não pode ser apenas

palavras que se repetem,

não pode ser um erro

de conexão,

um erro dos correios

e nem pode ser o meio

por que tento meios.

Não!

Parece que somos parecentes

e temos que nos conhecermos,

mesmo que seja por poemas

(que é a melhor forma de anularmos julgamento

e deixarmos voar nos ventos

tudo que for mais pesado)

pois não há coincidência no templo do tempo!

...

Não é porque adoro os teus versos!
Nem isso...



Esse poema é de 2006, feito para um poetisa linda que morava em BH. Ela se chama Mônica de Aquino, o mesmo nome da minha irmã, e nunca estivemos frente a frente, sempre verso a verso. Para você Mônica, toda poesia do mundo!

domingo, maio 04, 2008

.é com esse poema que envolvo minha alma em dias de espanto.


Poema em linha reta





Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.





Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

quinta-feira, maio 01, 2008

... e amando a gente ganha cores...


. Para amor falar .






Para te falar de amor
Emito sons de primavera
Componho frases de cores cheias
Com palavras florescendo manhãs.



Para te falar de amor
Trato nuvens com sopros quentes
Cultivo olhos de estrelas distantes
Penso luas de adormecer abraços.



Para te falar de amor
Cuido de desmembrar sistemas
Exploro cavernas de luzes secretas
Preservo as terras de raízes profundas



Para te falar de amor
Cato pedras de quebrar vidraças
Corto panos de trançar amarras
Parto atos de desfazer encontros



Para te falar de amor
Sinto tudo que é sentido
Busco tudo que é busca
Amo tudo que é amor!



esse poema foi composto para um grande amor, um amor que foi tanto e que tanto ainda foi um amor. esse poema ficou em segundo lugar no 1º concurso de poesia UNIFEMM. Lindo, ele se preserva puro mesmo depois do amor sangrar. a postagem é para você Babi, que por acaso gostou desses versos!

segunda-feira, abril 28, 2008

Voltas em torno do meu umbigo!

"Roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda peão..."
a vida, um tantão de ciclos. Sei disso: tudo que vai, pode ter como certo, volta. Não ousaria dizer que as coisas em mim foram de completo, mas espero que agora o movimento anterior gere outro mais belo. Novo ciclo, sinto! Acredito que ontem o passado tentou me visitar, mas não trouxe nenhuma lembrança que me envolvesse. Na verdade, acho que voltou para buscar o resto da sua mobília. Aquelas vestes foram queimadas, aqueles poemas foram queimados, aquelas imagens foram queimadas, aquelas mentiras foram queimadas... não há nada que um bom fogo não resolva! Não encontrou nada, nem estava lá. Só havia móveis vazios e paredes caladas. A única peça que eu deixara para trás, a minha boina, estava com um cheiro de mofo e abandono. No corpo não ouve o mérito de antes, nem um tremor, nem um anseio. O peito num ritmo seguro pensou um ponto, único, final. Pensava: "com tanto ciclo como perceber esse poema em linha reta?" O que me dizia mesmo esse poeta? Nada de girandôlas, nenhum círculo, nenhuma estação centrífuga. Meu coração com seus muitos andares vazios, salas de convenções, restaurantes, lojas de conveniências, caixas eletrônicos, uma grande sala de recepção... meu coração com o meu corpo como escudo, em vigilante requinte!
Isso foi ontem e de lá para cá as coisas mudaram muito. Primeiro por que adormeci e sonhei invenções possíveis, segundo por que acordei meio impossível. Eu sabia que ontem era um dia, comum a todos os outros dias. Era um dia morto, pretérito. (...) Depois desse dia tentará um dia maior, um dia do encontro dos nossos olhares ao descanso dos corpos, um dia que novamente outros encontros se farão possíveis, um dia que não restará nenhum sentimento de medo, nenhuma indagação de erros, pois que a vida faz voltas e como universo, é infinita enquanto!

sexta-feira, abril 25, 2008

.a poesia e um de seus amantes mais sinceros.

Foto: Franz Larese, Erker-Galerie, Easter 1971, Burano, Italy


Alguns poetas dormem com a poesia,outros amam a poesia secretamente corpo a corpo, espasmo a espamos, outros fazem as duas coisas. Ezra Pound foi um dos amantes mais confessos e sinceros da poesia. Com o seu imagismo e o seu vorticismo, tratou a poesia como um homem que não tem passado e não espera um futuro, com presença! Ele foi um poeta tão importante que levou a Hemingway declarar: "Um poeta deste século que afirme não ter sido influenciado por Ezra Pound merece mais a nossa piedade que a nossa reprovação". Para os desavidos e sem contato com esse poeta excepicional, aí vai um dos poemas que eu mais admiro:


E ASSIM EM NÍNIVE



"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.

"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.

"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."



(tradução de Augusto de Campos

quinta-feira, abril 24, 2008

Belo, belo, belo

Quero o belo, sem explicação:
beleza pouca é maldade!
Quero o belo, belo, belo...
quero aquela beldade!
Quero palavra em verso,
"para que a flor do belo não se extingüa!"
Quero o mais belo universo
desses universos de rimas!
Quero a beleza interna dos amantes
o ritmo desalmado dos corações.
Quero os belos diamantes
e a beleza lúcida dos carvões!

terça-feira, abril 22, 2008

invenções!

Estou me inventando outro.

Acabo de inventar em mim
um movimento de busca ocular involuntária,
um dispositivo de rastrear inquietações!

Estou inventando circulares!

segunda-feira, abril 21, 2008

um poema em fragmentos

um semelhante,
penso: jamais igual.

Meu ontem me delata:
100 km de pedal.

Muito o sol, a água,
muito o alimento.

Tamanha a batucada aurora:
o candombe, o canto negro!

Não cabe à memória:
transborda amarrotado!

Sou meu canto
precipitando um desfocado...

Cada gota, o suor:
um arranjo a cortar o vento.

Amacia a noite, adormece:
ontem faz tempo!

Olha o rio cipó, molha
a mão no atlântico amanhã.

Penso: diferentificidades!
Sete horas da manhã...

Era antes e agora é nada:
um espinho no caminho.

Todos estavam onde estavam,
aconteceu, foi partindo...

Nascituro dia, prematuro ano,
quanta poesia poderia...

Não! Não adoça o sumo!
Mudo, o novo gritaria?

Nada de covardias cardeais:
os iguales, estes vazios.

Semelhantes, desiguais:
Um sentido maior sob os sentidos!

sábado, abril 19, 2008

Haikai para Taís




Pedra-pomes
Alma porosa
Aos pés do teu nome!

Soneto do amar em Flor


Hás de silenciar a tua voz em mim
enquanto calar a minha boca na tua
e haveremos de sonar a mesma melodia
como sussurram nas frestas a ventania.

Hás de comungar comigo as noites frias
de onde vem os sonhos dos amantes da lua
e haveremo-nos lívidos e adormecidos
como adormecem os amores incandescidos.

Então seremos, sobre o sereno, consumidos
"em fogo, em brasa, em carne, em vida"
e que o mundo não duvide do amor.

Como não duvida dos traidores e dos traídos,
dos carrascos e dos tiranos, dos suicidas:
que a cada golpe do medo nasça uma flor!



escrito em agosto de 2006

Para Vocês!

POEMA DE OUTONO
a Carmela, a seu amor e a sua cria


(Quando dois olhos?)

Digo um jardim numa língua distante,
teu nome tem flora interna
e divinamente anuncia o mundo.


(Quando se encontram?)

Digo o teu amor e ao teu lado
torres se erguem, defende com cuidado
os homens e seus sonhos.


(Quando se amam e geram?)

Digo o nome: Maria! Insisto: Eduarda!
O universo continua protegido!
Ela é soberana! Cuidará dos jardins
com cuidado, com entrega, com amor!


(Quando Olhos?)



Ricardo Aquino

sexta-feira, abril 18, 2008

meus olhares oitavados

é lindo ser oblíquo!
apraz ser um sopro átono!
a mesma mirada de Ésquilo
deflora os velhos toques cálidos!

Dê-me a tua vênia, teu salve
que me salva o ingresso no alto!
Dê-me escalas dos olhos, deita-me fausto
entre cores e cheiros e veigas!

Pois que é lindo o desalinho!
é lindo as atmosferas líquidas,
é lindo ser um ser sem destino,
a evaporar em busca da palavra mítica

que nunca desdenha a alheia desgraça,
nem se vangloria do desengano,
a ele música é o grito do horizonte humano
que desprende olhos, que não se basta!

segunda-feira, abril 14, 2008

posição

Do lado de cá,
visto o que é ímpar,
há duas possibilidades de sol:
uma do quebra-mar,
outra do farol.
Do lado de lá,
rente ao que é par,
há infinitas imaginações:
tantas que são,
outras que tal!

sábado, abril 12, 2008

O melhor encontro da vida

Este poema é dedicado a você! Você que vai me ajudando a decifrar o mundo, tornando o caminho sempre mais colorido! Amo você,meu anjo!




A vida é assim:
medidas de uso,
janelas de escape,
alguns parafusos
e dias ruins!
A vida é assim:
um pouco de treva,
luzinhas no escuro,
milhares de velas
e meios sem fins!
A vida é assim:
a eira da beira,
uns tantos sem ares,
algumas besteiras
enfim!

sexta-feira, abril 11, 2008

"mas que importa um nome"




Estava a me lembrar de um poema visceral, que volta e meia eu assumo em meu corpo como condição para a vida. Esse poema tem uma voz rompante de um poeta gritante. Tem o contorno de urgência, que me remete às propriedades do meu pensar. Não sei por que hoje, lembrei-me sutilmente desse direito de existir poético e humano. Uma força formando o homem concreto, o homem que cresce junto a si mesmo e se fortalece sob o signo do amor. Assim, números e códigos diversos são mastigados, misturados à saliva do passado.Podemos imaginar a hora da digestão do mito. Engolimo-nos em grandes ou pequenas porções. A ausência sobre a presença em perpétuo movimento: "O homem não está na cidade como uma árvore está num livro
quando um vento ali a folheia."
Este poeta, não ouso grafar o seu nome; "mas que importa um nome"?

domingo, abril 06, 2008

cruzando pontes desconhecidas

é hora de atravessar, cruzar o rio,
este abismo sobre meus pés.
mas é preciso imaginar a ponte
e acreditar que ela existe
de se perceber!
é hora de conhecer o outro lado,
tocar o que se mirava ao longe.
mas é preciso ocorrer o cuidado
que há entre as distâncias
de se perceber!

cruzando pontes desconhecidas
pisando pedras nunca pisadas
respirando novas imprecisas
formas de amar variáveis!

quarta-feira, abril 02, 2008

Um olhar completo



a Gladston Mansur

Rosas do Tempo têm cheiro de lona
imaginadas com alma,
um certo painel díptico
pertubando o céu com manchas ocasionais.

Uma Amazônia nossa, somente,
em pedaços e protegida com cuidado.
Algumas ondulações de 2005,
suaves ondulações...

Um construtivismo puro, apuro
desconstruindo muros,
uma grande tela com dois registros:
ângulos angulares agudos, movéis,
um ponto mais claro, outros iluminados
um pergaminho de luz é o circo.

A tua face sobre um azul me cala,
contrói meu tato em ouro e prata
e as linhas quânticas das vias tântricas
em tantas estruturas caminhadas.

Ciclos, círculos, ciúmes ciclópicos
avermelhados de sombras:
cores para louvar as transparências!
remendos e costuras para romper grades!

Uma explosão de sanidades do nexo,
entre o leve e o complexo
um relevo circunflexo
e no centro da sala soa uma flauta:
a falta da presença profana olhares
entre duas capelas pálidas
aos nossos pés!



Ricardo Aquino

terça-feira, abril 01, 2008

três poemas para Gladston Mansur

O túnel e o Tempo



Faz túneis que há tempo
em meus girais de texturas,
com negras espessuras
e com coloridos movimentos.

A ti, faz silenciosamentos:
licenças, que por ventura,
ondulam em minha medula
ciclos acrílicos em rondamentos.

... e tão só, só por um momento
sinto o amarelo divino das conjunturas!




A dança


Ele de vermelho,
eles de amarelo,
outros em tolices de espera:
vergonhas neutras entremeiam a dança.

Uma canção azul inunda as margens!





Peça de abertura


Um inteiro,
uma alma inclinada,
em madeira:
parece ter pretenção de recheio!



outono de 2008 - sobre a exposição Construtivismo Gestual
ricardo aquino

segunda-feira, março 31, 2008

pensamentivo.

Como se minha língua fosse a língua do universo
eu a ofereço à cura de quaisquer dos males existentes!
Como se sem mim eu fosse ausente do verso
e não podesse oferecer descanso aos meus descendentes!
Como se eu desejasse uma palavra de ruínas
que atravessasse os séculos para ser reconstruída.
Como se uma palavra erguesse todos os reinos
e abominasse todas as crueldades das doutrinas!
Como se em minhas mãos corresse a energia
que dissolve os signos e seus velhos monumentos.
Como se do tato de suas errantes entrelinhas
fluisse algumas cronologias, algum tempo.
E como se a linguagem ambígua à míngua da língua
fosse silêncio entre os lábios e fosse sussurros noturnos!
E como se diante do futuro tudo o que finda
existisse de se esquecer e fosse um tanto mais profundo!

quinta-feira, março 27, 2008

releituras dos meus eus textuais

tenho a singela impressão
que escrevo para teus olhares:
mesmo as vírgulas,
mesmo os pontos.

Há tempos não nos vemos de tocar!

Fiz erros mensuráveis,
trabalhei incertezas variáveis,
construi castelos duros e sombrios:
esses de Sir. Doyle!

Sonhei tanto que a realidade se fez cruel,
mudou de órbida, refez singularidades.
Continuo torto à medida do possível,
mas não sou, nem nunca fui um poeta:
escrevo em versos, poeticamente licenciado!
Há duas coisas que nunca serão magoadas:
quais?
Sabes do que digo?

(...)

Nessa manhã o céu desfez-se de certas distrações tardias!

domingo, março 23, 2008

Um solinho...

Os cometas passam, os rastros não.
E tudo faz parte do núcleo e da poeira,
exceto as goteiras das infiltrações.
Eu passo só de brincadeira,
não deixo rastros,
pois os rastros são...
e eu...
eu solo a solidão!

segunda-feira, março 17, 2008

"Nem sempre se pode ser Deus..."

"Por isso estou gritando."
Por isso venho e mostro a minha face,
por isso não desejo máscara ou disfarce,
por isso não quero mais o palco:
quero o grito, quero o embate!
Não quero perpetuar o layout da desonra,
nem quero ser um angustiado da busca.
Quero a incerteza da busca,
quero a beleza da busca,
quero a leveza da busca,
quero a busca em mim...
por que "nem sempre se pode ser Deus!"

sexta-feira, março 14, 2008

Para Balzac

Este soneto foi composto pelo poeta Sebastião Noronha. Faz parte do livro Perfis, lançado em Belo Horizonte em 1970. Aqui, uma justa homenagem aos dois!


BALZAC (HONORÉ DE)


Dôres e anseios do mundo,
soube-os contar, foi além...
Não seria tão profundo,
não os sentisse também.

Onde houve amor, foi presente.
Desde o palácio à choupana.
Ninguém mais profundamente
sentiu a comédia humana.

Enlêvo e aflições, a vida:
tanta angústia dolorida,
que nem na ilusão se acalma.

Para o exaltar de uma vez,
basta dizer que êle fêz
Victor Hugo crer numa alma.



Sebastião Noronha