quinta-feira, setembro 06, 2007

a temática do conhecimento

Um dia
eu e a sabedoria
compartilhamos do mesmo rio.

Beber dessas águas,
sover essas líquidas tonturas,
saber-se saciado quase levou-me a loucura
da realidade realmente real e desconhecida.

Um dia
enquanto o céu aluia
pareciamos o mesmo instante.

O mesmo encanto da mesma luzidia
encantadora lembrança de um movimento
de sonhos e folias:
eu cria e quase morria em pessoa,
em outras figuras figurativas.

Um dia
eu e a poesia
enlouquecemos tantos sentidos
que construimos moinhos
para derrubá-los
com indeléveis vertigens ignoradas
das manhãs reconhecidas.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Das precisões

Entre amargas falas quero ser cego
de metáforas estúpidas,
é preciso parar no peito,
dar de frente com estes medos
que anulam a vida.
É preciso, tentar um passo mais firme
do que aquele da noite passada.
E é só! Aprendi...
Ser duro em tempos difíceis,
trazer defesas que podem perturbar texturas,
mas nunca deixar de prover cores
e de revelar o que é preciso!

domingo, julho 15, 2007

...

Sem palavras






Somente olhos!

sábado, junho 16, 2007

Como ser inteiro re- partido e...

Como ser inteiro re- partido e não perceber-se perdendo pedaços. Como entre tamanha luz iluminar-se, enquanto o negrume das noites abertas, de olhos abertos, de boca aberta, de coração aberto progride tomando as quinas e arestas. Seguir, como? quando? por quê? Talvez? Atracar, quê? quanto? O grande poeta torto estava certo:
toda batida, todo sopro, todo mirar, todo instante, todo sonho, todo ser, tudo...


Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, maio 14, 2007

Permanecidos

Eu permaneço,
quando em tempestades
tudo é água!

Você permanece
quando em labaredas
tudo queima!

Eles permanecem
quando evitam
fogos e chuvas!


proeta

terça-feira, abril 03, 2007

Quando não há tempo

Quando não há tempo, não há. Acabou-se, acabou-se. Muitos suicidas conheceram essa verdade entre uma escolha, que antes de ser escolha, era inevitavelmente uma verdade.
A única verdade verdadeiramente verdadeira: corpo, até quando?
Por isso, às vezes, canso de mim, quando não tenho (ou mesmo finjo) tempo para dois olhos, algumas palavras, um abraço. "E aê? Coméquitá? Tô nacorreria danada!" Eu prefiro não falar, é que há tanto para fazer que eu não estou afim não.
Quero ler O Grande Mentecapto e imaginar Sabino reduzindo isso aí, isso mesmo, chamado tempo. E se mede sem medida.
Eu só queria conversar um pouco, dizer que gosto do seu jeito de respirar, tão tranquila - mas eu sei, você está sem tempo.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

O triste




Encontrei-o vagando
em vias estreitas.
Não se conhecia imagem
mas tinha, decerto, terna semelhança.

Seus olhos invadiam
mundo subterrâneos,
destroços, refúgios, lençóis freáticos...

Tinha noções de movimentos,
nuvens,
mãos de labirinto,
percursos internos distintos.

Encontrei-o despido
nas horas desfeitas das ruas mortas.

Reconheci o seu silêncio,
a sua calma,
a sua mágoa!



R.A.R.

sábado, janeiro 06, 2007

Mirantes para volver


Estava lendo um poema de Gustavo Pains, publicado no Suplemento Literário de Minas Gerais, número 1291. Gustavo é cinegrafista e editor do Departamento de Artes na Rede Minas. Fez-me pensar a questão do ver o mundo: é certo, em tempos de guerra, que o olhar sempre se modifica. Fim do ano, início de outro e os olhos se voltam para os desejos de paz e de esperança e de prosperidade e de felicidade e de dinheiro. Dinheiro?... Eis que o olhar se projeta pela janela do monetário. Não se educa para realizações humanitárias, mas para a briga inútil do capitalismo. Tenha roupas demasiadas, móveis bastante, carro(s), casa e muros que assegurem a propriedade PRIVADA. Olhamos para um mundo doente e adoecemos com ele. Já que é ano novo, vamos mudar o olhar de pessimismo. Vamos renascer nossos olhos e olhares como nasce o sol - todos os dias, todas as horas! Vamos ser sóis rasgando nuvens para iluminar! Vamos dançar? Vamos sorrir? Vamos falar? Falar do que é bom e nos torna iguais: a busca pela verdade, pelo conhecimento, pela justiça, pelo amor. Vamos falar eloqüentemente da vida. Vamos naturar o corpo, tão frágil e tóxico? Vamos andar? Vamos ver, sem lentes de preceitos e/ou conceitos pré concebidos? Vamos tentar, pelo menos tentar sermos amigos? Vamos sonhar? E sonhando, vamos realizar? E vamos imaginar? Vamos imaginar um mundo grande? Vamos imaginar um mundo enorme e bom? Por esse desejo morreram homens justos e bons. Por esse desejo os nossos ancetrais se sacrificaram. Vamos imaginar um mundo super/hiper/mega-desmedido e olhá-lo de frente, nos olhos!
Pois:

" (...) que a falta de imaginação do olhar
acaba por diminuir a coisa olhada
que o fato de eu saber que há sobra
não me tira a falta de vontade de enxergá-la (...)"
Gustavo Pains